O dia em que virei atração ao visitar os rivais Red Star e Paris FC
O professor de história Ricardo Lucarelli relembra tour pelos times menos famosos de Paris
Por Ricardo Lucarelli
Num sábado de setembro de 2018, fui pela manhã à região do Mercado das Pulgas ao norte de Paris, para fazer uma visita ao Stade Bauer, que pertence ao Red Star, da 3ª divisão francesa. Mesmo sem falar francês e com um inglês bastante limitado, fui muito bem recebido.
Logo trataram de arranjar um jogador cabo-verdiano da equipe de base para facilitar a tradução. Me falaram sobre os projetos sociais desenvolvidos com imigrantes e fui presenteado com uma camisa retrô.
Depois peguei um metrô e fui ao sul de Paris, para ver o jogo entre Paris FC e Metz, pela 2ª divisão francesa, no Stade Charléty. O Paris FC é o maior rival do Red Star, hoje o dérbi da cidade – que não envolve o PSG, o time local mais conhecido.
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E eu com a camisa do Red Star na minha mochila. Na entrada a revista foi básica, então sem revirarem nada não viram a camisa do rival. Fui para a arquibancada. Logo localizei os ultras do Paris FC.
Contra o futebol moderno
O primeiro tempo passei tímido, pulando e cantando, mas sem puxar papo com ninguém. No intervalo, veio um torcedor falando português comigo, pois leu na minha camisa “Contra o futebol moderno”. O rapaz era português e uma das lideranças da torcida, rolou um entrosamento, uma rápida troca de informações sobre torcidas (claro que omiti a informação de que eu tinha acabado de chegar do estádio do Red Star).
Ele me apresentou para os demais franceses da torcida. Fui perdendo a timidez. Mesmo com inglês limitado, eu interagi, até me arrisquei na língua francesa, pois estava me sentindo acolhido.
De repente tinha um jornalista do jornal Le Parisiense na arquibancada querendo fazer uma entrevista comigo, com intermédio do colega português… E não é que a matéria foi publicada no dia seguinte! Fiquei espantado!
Fim do jogo, o Paris venceu o Metz por 2 a 1. Fui presenteado com a camisa de jogo de um atleta que foi até a arquibancada cumprimentar os torcedores. E ainda, no final, alguns torcedores me chamaram pra entrar no campo com eles para tirar uma foto com o grupo.
Essa foi uma das experiências mais loucas que já tive no futebol. No mesmo dia, visitei dois rivais e fui acolhido em ambos.
> Ricardo Ubiratan, professor de história de Três Rios (RJ), adotou o sobrenome Lucarelli em homenagem a Cristiano Lucarelli, ex-jogador do Livorno, da Itália, conhecido por sua ideologia de esquerda. Ele costuma fazer viagens que contemplem a oportunidade de assistir a jogos no meio de torcidas organizadas com ideais de esquerda.
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O Red Star sei que sua torcida é de esquerda, inclusive onde tem o símbolo do time tem velcro para torcida colocar palavras de ordem. Agora, o Paris FC não sabia.