Quando chegou do trabalho e viu os refletores do PV acesos, Daniel pensou: se o estádio foi fechado para a Copa do Mundo, alguma seleção está lá dentro. Dito e feito. Era a Holanda, a primeira equipe a treinar no Presidente Vargas, em Fortaleza, em junho. Privilegiado, o cearense pôde acompanhar, da janela do apartamento, aquilo que dezenas de jornalistas e torcedores adorariam espiar.

Todos foram barrados no portão. Nem mesmo a famosa caixa d’água de um salão de beleza vizinho ao estádio teve acesso permitido, por ordem do Exército. Apesar disso, Daniel Luis Lima Pereira, de 37 anos, conseguiu assistir a atividade em que o técnico Louis Van Gal pôde fazer testes para o jogo contra o México, marcado para o Castelão, pelas oitavas-de-final.

“Quando vi o uniforme laranja, já sabia que era a Holanda”, vibra Daniel, torcedor do Ceará. Ele mora no prédio que é sonho de consumo para muito torcedor fortalezense, por ter vista para o PV. Depois que casou, o alvinegro passou a morar num apartamento com janela para o lado oposto. No entanto, sempre que bate a vontade, vai à casa dos pais para seu camarote.

O apartamento no 12º e último andar garante ampla visão do campo. De lá, Daniel teve uma das maiores emoções no futebol, ao ver o gol de Erivelton nos minutos finais do Clássico-Rei decisivo do Estadual de 2012. “O barulho do estádio entra no apartamento de forma impressionante”, descreve.

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Se isso parece um privilégio, há um certo incômodo. Em virtude do delay na transmissão, assistir aos jogos na TV acarreta um atraso no lance de cerca de 3 segundos na exibição analógica e de 10 segundos na digital. “Depois que a torcida grita é que a gente vê o gol”, explica Daniel, que dessa forma prefere acompanhar as partidas no estádio ou na janela. “Lá eu vou pra torcer, aqui em cima serve para secar”, diverte-se.

Infelizmente, a vista tem dias contados. Um prédio de 20 andares está sendo construído entre seu apartamento e o estádio. Um bloco já impede a visão da tribuna. Em breve, uma nova torre bloqueará o restante do cenário. “Já cogitei comprar um apartamento nele”, confidencia. Depois de se acostumar, deve ser difícil viver sem esse camarote particular.

O barulho do estádio entra no apartamento de forma impressionante”. Daniel Pereira.

Esta matéria foi publicada pelo autor deste site originalmente no Tribuna do Ceará.

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