Dimas Filgueiras completa 40 anos no Ceará
“Soldado alvinegro” parece um apelido exagerado que a imprensa esportiva tanto adora. Mas até representa pouco diante de tanta história […]
“Soldado alvinegro” parece um apelido exagerado que a imprensa esportiva tanto adora. Mas até representa pouco diante de tanta história que Dimas Figueiras tem em Porangabuçu. Uma relação de amor com o Ceará que neste dia 2 de novembro completa 40 anos.
Foi há exatas quatro décadas que Dimas colocou na carteira de trabalho o carimbo que marcaria para sempre sua vida. Nascido no Rio de Janeiro, ele por ironia passou um ano no Fortaleza, entre 1971 e 1972, mas não renovou contrato. No dia seguinte trocou o Pici por Porangabuçu.
“Há males que vêm para o bem. Não fiquei no outro time, mas ganhei uma casa”, recorda Dimas, sem citar o clube rival. “Foi o Luiz Teixeira, diretor financeiro, quem me levou para o Ceará. Foi a melhor coisa que já aconteceu comigo”, reforça o ex-lateral, conhecido pela polivalência na defesa.
Ao pendurar as chuteiras, em 1976, Dimas seguiu no clube. Foi técnico, auxiliar, supervisor e vice-presidente. “Só não fui presidente”, gaba-se. “O Ceará é como um filho. Virei torcedor, por isso nunca nego ajuda quando o time precisa”.
Assim Dimas assumiu o comando técnico da equipe em 40 ocasiões a partir de 1982. Foram 504 jogos, o que o torna o quinto treinador com maior número de partidas por um mesmo clube no Brasil. Era ele o técnico, por exemplo, no vice-campeonato da Copa do Brasil de 1994, maior feito da história do Ceará.
“Só não fomos campeões porque acabamos garfados pela arbitragem”, lamenta Dimas, relembrando o empate sem gols contra o Grêmio, em Porto Alegre. Na ocasião, o árbitro Oscar Roberto de Godoy não assinalou um pênalti no atacante Sérgio Alves, nos minutos finais.
Mas mesmo aqueles dias de sucesso não se assemelham à devoção que Dimas passou a ser alvo após a Série A de 2010, quando salvou o time do rebaixamento e o levou à Copa Sul-Americana. “É muito gratificante o carinho que recebo nas ruas”, comenta o treinador, que ganhará biografia a ser lançada no dia 21 de novembro, escrita pelo pesquisador Alberto Damasceno.
“O Ceará é como um filho. Virei torcedor, por isso nunca nego ajuda quando o time precisa”. Dimas Filgueiras, 504 jogos como técnico do Ceará e 40 anos como funcionário.
Amizade com Garrincha
Nascido no Morro de São Carlos, Dimas Filgueiras começou a carreira de jogador no Botafogo nos áureos tempos de Garrincha. Graças àquele grupo, conheceu 42 países em amistosos, orgulho para quem foi um menino pobre. E pela seleção brasileira disputou as Olimpíadas de Tóquio, em 1964.
De Garrincha, guarda boas recordações. Dimas chegou a dividir quarto com o craque e escrevia as cartas que ele endereçava às namoradas. “Convivi quatro anos com Mané. Era amigo também da Elza Soares, e a gente costumava ir a sessões espíritas”, conta o treinador, emocionado. “O caso de Mané deixa uma lição: jogador precisa pensar no futuro”.
No Rio de Janeiro, Dimas também conviveu com Madame Satã, transformista que foi personagem emblemático da vida noturna carioca entre as décadas de 1940 e 1970. “Quando eu morava no morro, ninguém podia nem gritar comigo que ele já ficava com raiva. Era um negão de dois metros”.
Nascido em dia 13 de maio, Dimas é devoto de Nossa Senhora de Fátima. Foi a fé que o ajudou a superar o câncer de próstata, no início da década passada. Supersticioso, usava camisa com imagem da santa nos jogos do Ceará, até quando deixou o comando do time, no Estadual deste ano.
Com 68 anos e a saúde debilitada, o treinador enfrenta a rejeição da família sobre a possibilidade de assumir o time mais uma vez no futuro. Mas, como ele diz, soldado não pode negar um chamado do quartel. Se o Ceará precisar de ajuda mais uma vez, não tem segredo: é só falar com o Dimas.
Números do treinador
Perfil:
Nome: Dimas Filgueiras Filho
Nascimento: 13/5/1944
Naturalidade: Rio de Janeiro
Clubes como jogador: Botafogo, Fortaleza (1971/1972) e Ceará (1972/1976)
Clubes como técnico: Ceará (1982/2012)
Mais jogos no comando de um mesmo clube:
1º Lula – Santos – 999 jogos
2º Flávio Costa – Flamengo – 733 jogos
3º Osvaldo Brandão – Palmeiras – 580 jogos
4º Vicente Feola – São Paulo – 524 jogos
5º Dimas Filgueiras – Ceará – 504 jogos
Fonte: Pesquisador Eugênio Fernandes Fonseca
Matéria do VozãoTV na ocasião dos 500 jogos de Dimas pelo Ceará, em 2012:
Crônica publicada na coluna Papo de Verminoso, do jornal O Povo, que o autor deste blog assinava, em 5/2/2012, ocasião do jogo 500 de Dimas:
Se morresse em campo, morreria feliz
2 de novembro de 2012. Por ironia, o dia em que completa 40 anos em Porangabuçu reserva a Dimas Filgueiras a chance de devolver o Ceará à Série A. Ele prometeu e, enfim, chegou o dia de cumprir. Ainda não é a última rodada da Série B, mas o clube já pode garantir matematicamente o acesso. E com elenco cheio de garotos da base, seus queridos “Pirarucus”, liderados pelo também alvinegro Mota.
Antes do duelo decisivo, Dimas não vinha se sentindo bem. Ele pensara que o formigamento no braço se tratava apenas de tensão pré-jogo. Como não pediu atendimento, precisou o técnico desmanchar-se no gramado, a poucos minutos do apito final e da explosão de festa no estádio Presidente Vargas, para que todos percebessem que a emoção não cabia no seu peito.
Dimas não pôde ver a correria da torcida campo adentro. Viu, isso sim, uma vida inteira diante dos olhos. Como o tempo em que esteve no rival Fortaleza, passagem que tanto buscou esquecer, mas que proporcionou a vinda da Cidade Maravilhosa para uma terra que lhe garantiu muitas maravilhas. Viu também suas idas do céu ao inferno e, depois, do inferno ao céu.
Quando Evandro Leitão iniciou a revolução administrativa no Ceará, Dimas foi identificado como símbolo do atraso. Quando o técnico Estevam Soares acusou a existência de um sabotador em Porangabuçu, pensaram ser Dimas. Porém, quando o clube precisou de um salvador, sob ameaça do rebaixamento justo no ano da esperada subida para a Série A, Dimas não renegou o chamado, tal qual um soldado.
O misto de alegria pela conquista e tristeza pela perda reacendeu o arrependimento de Evandro, por tê-lo afastado em seus primeiros anos de gestão. Dimas sentiu isso, reconfortado. O técnico entendeu também que sua mudança de postura, após superar o câncer, foi decisiva para aproximá-lo das pessoas. Mais acessível, cativou jogadores, torcedores, dirigentes, cronistas e inclusive adversários.
Dimas sempre disse que, se morresse em campo, morreria feliz. Tudo que fez pelo Ceará já era suficiente para torná-lo um herói. Com o fim trágico, virava um mito. Por isso o sonho, que poderia ter sido o seu na véspera do jogo de número 500 pelo clube, não lhe pareceria pesadelo. Nem a imaginação deste colunista lhe será uma ofensa.
Veja o arquivo PDF da coluna Papo de Verminoso de 5 de fevereiro de 2012.
2 respostas para “Dimas Filgueiras completa 40 anos no Ceará”
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com relação ao ceará tenho muitas estorias pra contar desde da concentração as viagens que eu fiz com profissionais e nossa ida ao pv no onibus,cantando,mais vejam só que acaba de chegar é o ceará deixando o povo no lugar,não não é bafo de boca é ceará deixando a moçada com agua na boca é o ceara com a sua tradição quando entra no gramado a bola corre no chão,nosso time joga bola tbém joga por amor é time mais querido que a torcida consagrou ou lé ou lá lá,na cia de mauro cruz,mauro calixto,nagel e carlindo,gojoba,lima arthur,ciclete.vitor ,gildo,jaldemir ,jorge costa da costa.michila,téia,marco aurelio,mauro cruz,edmar,joãozinho,cicero,laudenir,zé eduardo,erandir,helio show,pedrinho,serginho beleza,carreti,,e o tecnico MARINHo rodrigues eNTRE 69 A 73
o dimas tem 40 anos de ceará e eu sapiroco tenho só 46 anos jguei divisão de base e até hoje hoje sou ceará,sempre