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O repórter que pôs um goleiro de joelhos

Rogério Roque, que sofre de osteogênese imperfeita, virou inspiração depois que foto dele viralizou

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Rogério Roque é repórter da Rede Primeiro Minuto, da Paraíba (Foto: Alênio Júnior/Clicksports PB)
Rogério Roque é repórter da Rede Primeiro Minuto, da Paraíba (Foto: Alênio Júnior/Clicksports PB)

Por Jornalistas e Cia

A foto de Alênio Júnior, em que o goleiro Wagner Coradin, do Campinense, da Paraíba, ajoelhou-se para ser entrevistado por um repórter da Rede Primeiro Minuto, rodou o mundo ao viralizar nas redes sociais em 2019. Foi um gesto de solidariedade do jogador diante do paraibano Rogério Roque, jornalista de 1,47 metro, e serviu para mostrar que, quando são respeitados, os profissionais com deficiência fazem a diferença.

Na opinião de Rogério, se tiver garra, competência e persistência, nada impede que pessoas realizem seus sonhos. “Nada é impossível quando se pode fazer, se sabe fazer e se quer fazer”, define o repórter.

Confira abaixo o depoimento de Rogério Roque ao jornal Jornalistas e Cia, publicado na edição especial do Dia dos Jornalistas, em 7 de abril passado.

“Somos capazes de ocupar qualquer cargo”

Nasci em Itaporanga, município paraibano localizado na Região Metropolitana do Vale do Piancó. Sofro de osteogênese imperfeita, mas a deficiência física, que paralisou parte de meu corpo e de ter um crescimento normal, não me impediu de estudar. Graduei-me em Administração na Faculdade Mauricio de Nassau, onde também fiz MBA em Gestão de Pessoas. Sou casado com Jocelma e tenho uma filhinha, a Laura, as maiores bênçãos de minha vida.

As grandes dificuldades que enfrento para exercer a profissão, além daquelas com as quais tenho de conviver por causa das minhas limitações para me locomover, são a falta de acesso imposta pelas estruturas físicas arcaicas dos estádios de futebol. Principalmente os mais antigos, pois as novas arenas oferecem todo o suporte para que o profissional com alguma necessidade especial, como por exemplo o cadeirante, possa acessar o gramado ou ir para as cabines, o que podem fazer usando elevadores.

Como, por exemplo, o Almeidão, aqui na Paraíba. Ele não tinha elevador, que foi instalado, mas nem sempre funciona, obrigando-me a subir escadas e chegar às cabines para comentar um jogo. O sacrifício sempre foi muito grande.

Paixão pelo jornalismo

Não só no futebol, mas como em qualquer outro ramo da profissão, a paixão pelo jornalismo é fator fundamental, pois trabalhar com o que e no que a gente gosta não tem preço. Ela nos proporciona alegria todos os dias. A gente procura dar o máximo, fazer bem feito, nem sempre olhando para a questão salarial. O esporte, mais ainda o futebol, é apaixonante por si só. Nutriu meu desejo de criança em ser jornalista esportivo, mesmo diante das tantas dificuldades que as sequelas da paralisia me impõem.

Graças a Deus, até mesmo pelo meu jeito expansivo de ser, nunca sofri discriminações e nenhum preconceito. Todos sempre foram respeitosos comigo dentro e fora do ambiente de trabalho, vendo-me como qualquer outra pessoa, alguém que pode fazer tudo o que faz uma pessoa sem deficiência. Por mais que seja difícil, sempre dou meu jeitinho procurando fazer bem feito.

“O esporte, mais ainda o futebol, é apaixonante por si só. Nutriu meu desejo de criança em ser jornalista esportivo, mesmo diante das tantas dificuldades que as sequelas da paralisia me impõem”. (Rogério Roque)

Quanto às divergências de opiniões, elas sempre existiram, existem e continuarão existindo. É normal, no contexto profissional ou mesmo pessoal, concordar ou discordar das opiniões alheias.

Alcancei sucesso na vida superando as limitações ou então convivendo com elas, sempre com muita força de vontade e determinação. Sou valente e decidido. Não importa se faça sol ou chuva, quando saio de casa para o trabalho, seja em transporte público ou próprio, sempre chego lá. Nunca perco um jogo, seja às 11 da manhã ou às 9 da noite, chegando em casa de madrugada.

Essa paixão me move e enfrento todos os obstáculos com a maior naturalidade. Afinal, eles estão aí, mas não vão me derrotar. Assim deve ser, nada é impossível para ninguém quando se pode fazer, se sabe fazer e se quer fazer.

Reconhecimento público

As minhas conquistas são muitas. Pessoais e profissionais. Sou graduado em Administração e entrei no jornalismo por obra de meu irmão Luiz Carlos, dono da Rede Primeiro Minuto, e por ser, como já frisei, um apaixonado por essa profissão. O reconhecimento público, no entanto, veio mesmo com a profissão de jornalista. Recebo inúmeras mensagens elogiando meu trabalho, pessoas querendo fazer parcerias, que não me veem como alguém com necessidades especiais, mas como um profissional.

Sou uma pessoa com deficiência que se tornou profissional do Jornalismo. No entanto, não vemos, na comunicação em geral, tantos profissionais portadores de deficiência. Eles ainda são raros no Brasil, quer porque haja uma barreira natural, seletiva e hipócrita, que impede as contratações, não permitindo que mostrem sua competência, sua eficiência.

Tenho cá comigo que existem, sim, empresas preconceituosas e vai demorar muito para que adquiram uma consciência capaz de eliminar as desigualdades e promover a inclusão. Seja em qualquer ramo do mercado de trabalho. Seria uma felicidade muito grande ver mais repórteres, comentaristas e narradores trabalhando nas transmissões esportivas, ou mesmo aqueles que exercem funções na parte técnica e em outros setores das emissoras.

“Sou uma pessoa com deficiência que se tornou profissional do Jornalismo. No entanto, não vemos, na comunicação, tantos profissionais portadores de deficiência”.

No entanto, é justo reconhecer que houve alguma evolução quanto à inclusão de pessoas com deficiência no mercado. Mas geralmente são alocadas em áreas internas, principalmente as administrativas, que não exigem muito esforço físico. Elas nem sempre estão na ponta, naquela em que profissionais vão para a rua fazer algum tipo de trabalho externo.

Temos que mudar isso, pois somos capazes de ocupar qualquer cargo, desde o mais baixo ao mais alto, de direção e de comando. Não podemos nos contentar em sermos apenas auxiliares, assistentes. Essa situação vem de longe e creio que, por mais que sejam cobradas pela sociedade, as empresas – não todas, há exceções − não estão cumprindo a Lei de Cotas.

> Veja a edição especial do Jornalistas e Cia com outros artigos de jornalistas com deficiência.

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