Em 1991, Antônio Carlos viu um rapaz filmando os jogos de seu time com uma câmera de uso pessoal, num torneio de futsal no bairro da Mooca, em São Paulo. Ali, teve a ideia de fazer o mesmo um dia.

Dois anos depois, Kuke, como é mais conhecido, comprou sua câmera. No primeiro dia, registrou seis gols, em dois jogos disputados. Aos 25 anos, era o início de uma contagem que alcançou marca inacreditável.

Hoje com 56 anos, Antônio Carlos Anacoretto de Oliveira, o Kuke, soma 12.231 gols filmados, em 31 anos de futsal (cerca de 400 gols por ano). Todos em jogos com arbitragem – seja amistosos, festivais ou torneios municipais ou de bairro, na Grande São Paulo.

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Foram muitos mais gols

Podiam ser mais gols filmados, se seus “cinegrafistas” estivessem sempre atentos. “Deixo a câmera com alguém, um parente ou amigo. Mas, às vezes, a pessoa esquece de virar do centro da quadra para o gol”, lamenta Kuke.

Além disso, a contabilização não inclui bate-bolas sem arbitragem. Ele até filma esses jogos, mas não os considera na estatística. “Às vezes até sai puta golaço, mas pra mim só vale se tiver juiz”, explica.

Também não conta, claro, os gols do tempo em que não tinha câmera. “Aquele foi meu auge. Eu jogava quase todo dia e marcava 6 ou 7 gols por jogo”, relembra. “Brinco que já fiz 30 mil gols, mas certamente o dobro sim (24 mil)”.

“Brinco que já fiz 30 mil gols, mas certamente o dobro sim (24 mil)”. (Kuke)

A carreira no futsal

Kuke, morador de São Paulo, começou a jogar no tempo em que a modalidade ainda se chamava futebol de salão, na década de 1970, quando tinha 9 anos.

“Meu padastro me levou numa quadra, só tinha adultos, e me falou: ‘Se você fizer três gols, eu te levo no jogo do Corinthians de amanhã’. Fiz dois e fiquei muito triste, mas ele acabou me levando”, recorda.

O início foi na Portuguesinha de Sacomã, de São Paulo, mas depois os times foram muitos na carreira amadora: Sberoc, Família Futsal, São Bento, Rubens Salles, Faraós, Gramita, Doceria Vivi, Leões, Opção Tintas, MJ Pneus, ZF…

Federado no fim dos anos 80, o pivô chegou a defender cinco times simultaneamente, em diferentes torneios reconhecidos pela federação paulista, em cinco dias por semana. Somente no extinto Sberoc, de São Caetano, foram 23 anos, entre 2000 e 2023. Já pelo ZF, de Sorocaba, foram 12 anos, entre 2002 e 2014.

O arquivo de gols

Os gols marcados desde 1993 estão arquivados em fitas VHS, DVDs, HDs externos e computador. Nas fitas, são 10.346 gols. Em 2013, Kuke comprou uma câmera mais moderna, que capta em formato digital e transfere os vídeos direto para o computador – nesse caso, são mais 1.885 gols até aqui.

A mania de filmar os próprios jogos virou tradição de tal forma que, hoje em dia, eventualmente o jogador registra as partidas com as duas câmeras, para ter ângulos diferentes. “Nem sempre consigo duas pessoas para gravar, mas quando dá gosto de ter os gols do lado oposto ou da altura da quadra”.

Daí, inicia-se uma outra operação: a organização desse material. “4 mil a 5 mil golaços eu já converti para digital e passei para DVDs, com backups em 4 HDs externos diferentes. E, do total, já subi 2 mil a 3 mil gols no Youtube“, calcula o vendedor, que sonha em entrar para o Guinness Book, com o recorde de gols de futsal filmados.

“Nem sempre consigo duas pessoas para gravar, mas quando dá certo gosto de ter os gols do lado oposto ou da altura da quadra”. (Kuke)

Tal qual Pelé, o maior goleador da história do futebol profissional, Kuke jura que também fez um gol dando três chapéus em marcadores e outro no goleiro. Infelizmente, porém, não há registro dessa jogada.

“Foi o meu gol mais bonito, fiz em Diadema. Mas o cara ficou assistindo e não gravou. Nossa, fiquei tão triste!” Que apareça algum animador, assim como no filme do Rei, pra deixar o lance para a eternidade.

Serviço:

Veja parte dos gols de Kuke, em seu canal no Youtube.

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