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Estudo revela atuação de políticos e jornalistas que estruturou os clubes de BH nos anos 40

Ives Teixeira Souza faz um resumo de sua dissertação de mestrado que investigou as teias entre política, jornalismo e futebol na Belo Horizonte da década de 1940

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O Independência, reformado para a Copa de 2014, foi construído pela prefeitura para a Copa de 1950 (Foto: Estadios.net)
O Independência, reformado para a Copa de 2014, foi construído pela prefeitura para a Copa de 1950 (Foto: Estadios.net)

Por Ives Teixeira Souza

Pelas mesas de bares ou conversas em aplicativos de mensagem, às vezes, um desavisado brada que futebol e política não se misturam. O movimento parece ser o simples desejo de provocar uma discussão acalorada capaz de revelar inúmeros exemplos, sem importar a localidade e o tempo histórico.

Em Belo Horizonte, os primeiros estádios de futebol, ainda nos anos 1920, foram subvencionados pelo município e pelo Estado. Clubes como o América Futebol Clube, o Clube Atlético Mineiro e o Palestra Itália (atual Cruzeiro Esporte Clube) foram beneficiados pelos mandatários locais, como Christiano Machado e Antonio Carlos, pela força das relações entre os responsáveis pelos clubes – entendidos também como clubes sociais, não apenas voltados à prática de futebol.

As relações continuaram ainda bem explícitas nas décadas seguintes em clubes como o Sete de Setembro e o Minas Tênis Clube. Em 1948, o primeiro prefeito eleito por voto popular em mais de vinte anos Otacílio Negrão de Lima, ex-ministro do Trabalho, ex-jogador e presidente do América, concedeu um vultuoso empréstimo municipal aos clubes da cidade, no que foi chamado por ele de “socorro dos clubes esportivos”.

Foi esse o ponto de partida para a pesquisa que realizei, sob orientação do professor Nísio Teixeira, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para indiciar as relações entre os clubes de futebol, os agentes políticos e os sujeitos jornalísticos na conformação daquela Belo Horizonte cinquentenária, que vivia a busca pela redemocratização pós Estado Novo (1937-1945).

Político, jornalista e dirigente esportivo

Porém, antes de Otacílio, sujeitos políticos, como o então interventor Benedito Valadares e o prefeito nomeado por ele Juscelino Kubitschek, foram ovacionados pelas colaborações, por exemplo, para a reforma do estádio do Cruzeiro.

Como apresenta a pesquisa, em março de 1945, JK teve seu retrato inaugurado na sede do Atlético e quatro meses depois, em julho, participou da reinauguração do estádio do Cruzeiro, que passava, então, a ser denominado “Estádio Juscelino Kubitschek”.

Único patrono do clube, de acordo com o atual Estatuto do Cruzeiro, o ex-presidente da República, quando da sua morte, estava com documentação que indicava participação em reuniões ligadas ao rival Atlético.

Outro caso exemplificado pela pesquisa é o do amigo de JK Gregoriano Canedo – jornalista, advogado e diretor dos Diários Associados, então a principal empresa jornalística do Brasil. Antes de assumir a presidência do Atlético, o jornalista, no Natal de 1943, ganhou como homenagem um retrato estampado no salão nobre do rival América.

Como principal projeto na presidência, a partir de 1946, idealizou o estádio do Atlético na região da Pampulha, que inclusive chegou a ganhar prêmio de arquitetura e ser mencionado na revista “O Cruzeiro”, dos Associados, como “Estádio Gregoriano Canedo”. Poucos anos depois, após deixar a presidência do clube, o dirigente foi eleito deputado estadual.

Estádio Gregoriano Canedo foi idealizado pelo Atlético nos anos 1940, para a Pampulha (Foto: Revista O Cruzeiro)
Estádio Gregoriano Canedo foi idealizado pelo Atlético nos anos 1940 (Foto: Revista O Cruzeiro)

Belo Horizonte, 125 anos

Ao olhar para essas relações foi possível identificar uma característica bem determinante sobre a Belo Horizonte de ontem, que reflete, sem dúvida, no presente e no futuro. Foi o que chamei de “modernidade desconfiada de Belo Horizonte”: em que o presente desconfia dele mesmo para convocar um outro futuro, que jamais vai ser o bastante, quer aconteça ou não.

Foi assim com os estádios construídos na cidade nos anos 1920, feito o do Atlético, o “Estádio Antonio Carlos”, e o do América, que mais de uma década depois recebeu o nome “Otacílio Negrão de Lima”, e suas constantes reformas. Bem como com a construção do Estádio Independência, na gestão municipal de Otacílio, nos anos 1940, o que também não foi o bastante para a modernidade pretendida, de modo a contribuir para a idealização, na década seguinte, do Mineirão.

Na cidade prestes a comemorar seus 125 anos em dezembro, o futebol ainda ganha novos contornos com a construção de mais um estádio, denominado Elias Kalil – não por acaso, o pai do prefeito da capital mineira nos últimos pouco mais que cinco anos e agora ex-prefeito Alexandre Kalil, também ex-presidente do Atlético Mineiro, clube dono do estádio.

Um dos principais realizadores e patrocinadores do Atlético, o empresário e engenheiro atleticano Rubens Menin, não só investiu na tecnologia da arquitetura e engenharia do estádio, mas também comprou, em 2021, a principal rádio da cidade, a Itatiaia, líder no segmento esportivo e político.

Desde então, assumiu a vice-presidência da rádio o jornalista esportivo e deputado estadual João Vítor Xavier, com a promessa de continuar a tradição do jornalismo praticado pela emissora – que teve como fundador, há 60 anos, Januário Carneiro – com investimento no jornalismo multiplataforma.

Januário Carneiro, Juscelino Kubitschek e Otacílio Negrão de Lima: Nomes que tiveram força no futebol (Foto: Acervo fotográfico da Coleção Memória da Assembleia Legislativa de Minas Gerais)
Januário Carneiro, Juscelino Kubitschek e Otacílio Negrão de Lima: nomes que tiveram influência no futebol (Foto: Acervo fotográfico da Coleção Memória da Assembleia Legislativa de Minas Gerais)

Enquanto isso, sob presidência do radialista esportivo e deputado estadual Alencar da Silveira Júnior, o América se projeta, por meio de um ideal de gestão moderna e eficiente, para ocupar espaço semelhante ao que tinha na cena do futebol belo-horizontino há cem anos, o de imbatível.

Ao Cruzeiro resta tentar fazer sobreviver seu futebol, com ou sem Ronaldo, por meio de uma nova oportunidade criada recentemente em forma de lei, a Sociedade Anônima do Futebol, sem deixar de lado a associação que possibilitou o ápice e a derrocada do clube.

É a partir desses ideais de inspiração moderna, que essas relações ainda convocam para si, a conformação da cidade onde o presente é sempre o futuro; da Belo Horizonte que possui como única certeza a desconfiança da modernidade de si própria – a ponto de ao menos um de seus estádios ter o nome de um político, vide o Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão.

Serviço:

Para mais detalhes sobre os antigos estádios de futebol da capital mineira é só acessar o Campos Invisíveis; para ter acesso às tramas aqui esboçadas e outras tantas, é só acessar a dissertação “O dinheiro do Otacílio”: indícios das relações entre agentes políticos, clubes de futebol e sujeitos de imprensa na modernidade desconfiada da Belo Horizonte dos anos 1940.

> Ives Teixeira Souza, 25, torce para o Democrata Futebol Clube (MG) e é doutorando, mestre e bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo e em Relações Públicas, pela Universidade Federal de Minas Gerais.

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Uma resposta para “Estudo revela atuação de políticos e jornalistas que estruturou os clubes de BH nos anos 40”

  1. Parabéns meu filho amado afilhado fico muito orgulhoso em ter você como meu sobrinho e afilhado que e muito dedicado em tudo que faz e vai a fundo na histórias passadas e mostrar a todos de quem vive de passado e museu não é se de histórias que deixamos de ver o que passamos para vivermos o hoje. Parabéns meu filho. Nilson santos

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