Joza Novalis: O jornalista que vê jogos de 2ª divisão latino-americanos e viajou 36 vezes à Argentina em 10 anos
Joza, jornalista independente de São Paulo, virou referência sobre o futebol dos países do continente
É inegável a dominância do futebol brasileiro na América do Sul. Com clubes em condição financeira tão superior a de equipes dos países vizinhos, reforços importados se tornaram cada vez mais comuns, sejam eles jogadores ou técnicos. No meio dessa intensa busca, o jornalista Joza Novalis destacou-se como um estudioso sobre o futebol latino-americano.
Conhecido por seu canal no Youtube, que atualmente conta com 80 mil inscritos, Joza virou fonte de informações para jornalistas, torcedores e dirigentes brasileiros. Com inúmeras participações em canais de Youtube com foco em times brasileiros, e até mesmo em emissoras de televisão, o jornalista de São Paulo acumulou considerável prestígio.
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Olhos para o continente
Sua relevância aumentou, por exemplo, em ocasiões como a da chegada do técnico Juan Pablo Voyvoda ao Fortaleza, quando bancou que a contratação era acertada e que traria muitos frutos para o clube. O argentino acabou levando o time à semifinal da Copa do Brasil e a uma vaga inédita na Libertadores da América.
“Se eu fosse dirigente no futebol brasileiro, a primeira coisa que estabeleceria no meu clube é que a fronteira do mercado não é o Brasil, é a América Latina inteira”, analisa Joza, que fala com conhecimento de causa.
Antes da pandemia de Covid-19, o jornalista viajou 36 vezes para a Argentina em somente 10 anos – claro, para ver futebol. “Sempre sou informado de jovens que estão se destacando, aproveito as viagens para vê-los também. Costumo ver os jogos dos reservas do Campeonato Argentino, acompanho também os jogos do sub-20, sub-17 e sub-15”, enumera.
“Sempre sou informado de jovens que estão se destacando, aproveito as viagens para vê-los também”. (Joza Novalis)
Sala de jogos
Em casa, é também uma maratona de futebol. “Vejo jogos da 2ª divisão da Costa Rica, 2ª divisão do México, e assim por diante. Tenho uma sala com várias TVs, e costumo ligar todas elas em jogos ao mesmo tempo”, relata o jornalista, que, reservado, prefere não dizer onde mora, nem dá detalhes pessoais de sua vida.
Em entrevista ao Verminosos por Futebol, Joza analisa o atual estágio do futebol nos países do continente, fala sobre as oportunidades de mercado para clubes brasileiros e comenta a repercussão e o reconhecimento em torno do seu nome. Confira abaixo.
“A fronteira do mercado para nossos clubes não é o Brasil, é a América Latina inteira”
Verminosos por Futebol – De onde surgiu sua paixão pelo futebol do continente?
Joza Novalis – A minha paixão pelo futebol sul-americano vem da relação do futebol com os clubes da Argentina, onde existem clubes de bairro. Em cada bairro existem dois clubes ou até três, as disputas que eles fazem são muito interessantes, são altamente competitivas. Quando um time do sul de Buenos Aires vai jogar contra um time do norte da cidade, os torcedores vão a pé, em um caminho de horas e horas. Quando comecei a viajar pela América do Sul, tive um entendimento maior e uma sensação de algo que aqui no Brasil a gente não costuma praticar e viver, que é o sentido de ser um sul-americano e um latino-americano, e que o futebol é uma integração de tudo isso.Verminosos – Existem coisas que o futebol brasileiro deveria aprender com o futebol argentino?
Joza – O futebol argentino está vivendo um momento muito complicado, mas ainda acho que o Brasil pode aprender muito com o futebol argentino no sentido de organização. Evidentemente que nem todo time argentino é organizado, hoje a gente tem uma crise profunda em clubes como San Lorenzo, Racing e Independiente, porém eles vão sair da crise, têm uma tendência de entender essas situações mais rápido que os times brasileiros. Acho que outra coisa que o futebol brasileiro pode aprender é na hora de contratar jogador. Quando um clube argentino define que um jogador é interessante, eles vão atrás dele e raramente falham nessa tentativa.Verminosos – Além de Brasil e Argentina, qual outra nação sul-americana é mais promissora ao revelar talentos para o futebol mundial?
Joza – O Uruguai é um fenômeno, algo para ser estudado em relação a essa questão de revelar jogadores. O Uruguai tem 3,5 milhões de habitantes, é um absurdo o que acontece com o futebol uruguaio, pois o país faz milagres na hora de revelar jogadores. O Uruguai talvez revele mais jogadores, proporcionalmente, que Brasil e Argentina. Outros centros estão aparecendo. Um deles é a Colômbia, mas eles não aproveitam pois são desorganizados. O Equador é outro grande centro de revelação de jogadores, que começou a fazer um trabalho nos pequenos clubes.“O futebol argentino está vivendo um momento muito complicado, mas ainda acho que o Brasil pode aprender muito com o futebol argentino no sentido de organização”. (Joza Novalis)
Verminosos – O que falta, atualmente, para os times sul-americanos conseguirem fazer frente aos clubes brasileiros nas competições continentais?
Joza – Os clubes sul-americanos não vão ficar durante muito tempo assistindo aos brasileiros ganhando tudo, eles vão fazer alguma coisa, e o que eles podem fazer é se revolucionar internamente em termos de gestão. Então acho que, em algum momento, eles vão aprimorar mais as ações de gestão e vão fazer com que seus clubes sejam mais competitivos.Verminosos – Como você se informa sobre o futebol desses países? Costuma ler jornais e sites com que frequência?
Joza – Eu costumo ler jornais, acessar sites. O meu modus operandi é mais ou menos assim: começa quando eu acordo, por volta das 4h30, faço uma leitura de coisas gerais, nada de futebol, de 40 minutos a uma hora. Depois disso, faço um apanhado de uma hora de tudo que aconteceu no futebol latino-americano, em sites, canais, uma série de coisas. A partir de uma informação importante, eu coloco no meu banco de dados.Verminosos – Você costuma assistir a jogos pela TV e internet? Com qual frequência?
Joza – Eu vejo muito futebol, acho que um analista precisa ver futebol, e eu vejo através de várias maneiras, através de plataformas, sites. Vejo futebol a partir da compra de direitos na internet. Eu consigo assistir o Campeonato Colombiano entrando em contato com a página que organiza o futebol colombiano, a Dimayor. Então eu posso, a partir de um certo valor, ter todos os jogos à minha disposição. O mesmo serve para o Equador. Por algumas temporadas, como presente da federação colombiana, tive à disposição a transmissão dos jogos, sem precisar pagar. Na minha casa eu consigo ver jogos da 2ª divisão da Costa Rica, 2ª divisão do México, e assim por diante. Tenho uma sala com várias TVs, e costumo ligar todas elas em jogos ao mesmo tempo.“Na minha casa eu consigo ver jogos da 2ª divisão da Costa Rica, 2ª divisão do México, e assim por diante. Tenho uma sala com várias TVs, e costumo ligar todas elas em jogos ao mesmo tempo”. (Joza Novalis)
Verminosos – Quantas viagens você já fez para outros países do continente? Você viaja especificamente para ver futebol?
Joza – Eu não consigo especificar quantas viagens eu fiz para esses lugares. Eu lembro que, antes da pandemia, nos últimos 10 anos, fiz 36 viagens para a Argentina, o que dá em média três viagens por ano. Eu vou pra ver futebol, ver grandes jogos, ver pequenos clássicos importantes, ver clássicos de bairros. Sempre sou informado de jovens que estão se destacando, aproveito as viagens para vê-los também. Costumo ver os jogos dos reservas do Campeonato Argentino, esse campeonato na Argentina é muito importante. Acompanho também os jogos do sub-20, sub-17 e sub-15.Verminosos – É verdade que você virou fonte de jornalistas que precisam de mais aprofundamento?
Joza – De certa forma sim, acabou virando uma realidade. Em um certo momento, comecei a fazer uma divulgação do meu trabalho pelo Twitter, e alguns jornalistas acabaram me conhecendo e passaram a pedir informações. Eu acho que, inclusive, o mais importante disso é que esses jornalistas peçam as informações, pois quando eles fazem isso, estão de fato preocupados com a qualidade do trabalho. Alguns poderiam pedir informação, não pedem, e acabam falando muita besteira. São jornalistas de todos os tamanhos, jornalistas grandes, que geralmente são para quem passo mais informação, jornalistas que estão começando. Não posso falar o nome deles, é uma questão de delicadeza.Verminosos – Hoje, onde é possível acompanhar suas ideias? Já está dando pra viver do seu canal de Youtube?
Joza – As pessoas podem conhecer as minhas ideias através do Twitter, através das minhas redes sociais. O meu canal tem um objetivo de fazer com que o torcedor aprenda a conhecer o futebol dentro de campo. A ideia é que o torcedor se liberte o máximo possível da dependência que tem dos jornalistas, para que ele entenda de futebol e do jogo. Eu não trabalho em TV, nem em rádio, tive apenas uma experiência no Bandsports. Hoje, minha única fonte de renda é mesmo o Youtube. Na verdade é algo apenas para pagar as contas, não é possível ganhar mais do que isso no Youtube hoje.“Antes da pandemia, nos últimos 10 anos, fiz 36 viagens para a Argentina, o que dá em média três viagens por ano”. (Joza Novalis)
Verminosos – Você virou uma unanimidade entre torcedores de vários clubes. Qual a sua sensação em relação a essa confiabilidade?
Joza – Acredito que essa confiança do torcedor é do entendimento sobre o carinho que eu tenho pelos clubes. Acho que a mídia tradicional na abordagem aos times passa um pouco do ponto.Verminosos – Você já foi convidado para trabalhar em algum clube?
Joza – Sim, já fui procurado por clubes, não só do Brasil. Fui procurado pelo Gimnasia La Plata e pelo Banfield, ambos da Argentina. Aqui no Brasil já fui procurado para algumas consultorias, mas em geral as minhas ideias nunca batem com as dos dirigentes. Tive conversa com um clube para ser funcionário do time por um ano, mas as forças internas não permitiram. Houve também uma tentativa do Cruzeiro, logo após a queda para a 2ª divisão, mas as ideias não bateram.Verminosos – Se você fosse um dirigente de clube brasileiro e buscasse bons reforços e técnicos por bons preços, começaria a acompanhar quais campeonatos? Qual é o mapa da mina?
Joza – Se eu fosse dirigente no futebol brasileiro, a primeira coisa que estabeleceria no meu clube é que a fronteira do mercado não é o Brasil, é a América Latina inteira. E essa América Latina é um mercado de oportunidades, também não pode ser um mercado pra buscar qualquer jogador, tem que ser um mercado de oportunidade. Não adianta buscar um jogador na América do Sul que seja tão caro quanto um jogador brasileiro, não adianta buscar um grande destaque de uma Copa Libertadores, isso não é oportunidade.A ideia é buscar jogadores que são desconhecidos, acho muito importante fazer um trabalho profundo nesse sentido. O mapa da mina está nisso, tem que saber localizar os jogadores que não são conhecidos, e tem jogadores assim por todos os lugares. Também faria isso aqui no Brasil, um trabalho diferenciado, de tentar recrutar jogadores na várzea, em ligas amadoras. Buscar jogadores na várzea entre 18 e 25 anos, que tenham condição de ser profissional. Um jogador de 28, 29 e 30 anos não serve, evidentemente.
Serviço:
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> Reportagem produzida por Yuri de Melo, com edição de Rafael Luis Azevedo, do Verminosos por Futebol.
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