Glory Mag: A revista de turismo do futebol
A cultura futebolística local quase sempre também passa batida por quem relata o turismo na imprensa. Mas esse não é o caso da Glory Magazine, da Inglaterra
Texto de Bruno Rodrigues, no Medium.
Experimente conferir um guia de viagem e buscar nas opções de pontos turísticos algum estádio de futebol. Com exceção da Bombonera, em Buenos Aires, um clichê turístico para quem visita a capital argentina, são raríssimos os casos de atrações futebolísticas presentes nesse tipo de publicação, seja ela impressa ou online, destinada a viagens nacionais ou internacionais.
A cultura futebolística local quase sempre também passa batida por quem relata o turismo para blogs, revistas ou veículos especializados. Mas esse não é o caso da Glory Magazine, da Inglaterra. Só que ao contrário de um guia turístico que fala de futebol, na Glory é a bola a grande protagonista, o fio condutor para que, aí sim, se fale das viagens.
Lançada neste mês de abril, a revista tem uma equipe fixa formada por três pessoas: o fotógrafo Ryan Mason, torcedor do Norwich e que já clicou para a Adidas e publicações como a Soccerbible, o designer Lee Nash, torcedor do Ipswich Town com 20 anos de experiência na indústria do design e propaganda, e o escritor e cineasta Louis Rossi, torcedor do Arsenal e responsável pela parte de texto da Glory.
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Juntos, eles embarcaram no desafio de colocar no mercado editorial uma publicação esportiva impressa, um risco que assumiram com boa dose de ousadia, estampando na primeira capa um destino no mínimo curioso do mundo do futebol: as Ilhas Faroé.
A escolha do formato impresso atendeu, primeiro, a uma vontade do trio de criar um projeto de concepção distinta ao que estão acostumados desde a juventude, quando liam revistas tradicionais como a Four Four Two e a 90 Minutes. Com a ideia de serem diferentes partiram para o papel, mesmo conhecendo a dificuldade de manter a iniciativa, financeiramente falando.
Não há um patrocinador bancando as impressões da revista, nem um grande veículo de mídia por trás. Contudo, Mason, Nash e Rossi acreditam ainda no leitor que busca conteúdo mais aprofundado e consome leituras longas. E que é esse leitor que ajudará a viabilizar a Glory por mais tempo.
“Nosso trabalho é convencer as pessoas a tentarem algo novo — achamos que a Glory fala por si só assim que os leitores a têm em mãos”. (Louis Rossi)
Sobre o desafio de mergulhar em um projeto impresso nos dias atuais, a inspiração da revista e o conteúdo curioso da capa, entrevistei Louis Rossi, Head of Copy da Glory, que me contou mais a respeito do projeto. Tenham todos uma boa viagem ao longo dessa leitura.
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Qual foi a inspiração para criar uma revista como a Glory?
Somos todos grandes fãs de futebol e perseguíamos um projeto futebolístico há um bom tempo. Porém, existem várias revistas de futebol, então sabíamos que a gente deveria tomar uma abordagem diferente. A ideia era olhar além da Premier League, da Champions League e das outras grandes ligas europeias para explorar como o futebol é seguido ao redor do mundo. A cultura do futebol é muito importante para muita gente, e nós só queríamos retratar isso.
Como surgiu a ideia de cobrir o futebol das Ilhas Faroé para a primeira edição e que surpresas vocês tiveram com a viagem?
Nós tomamos conhecimento do futebol faroês muito antes de preparar a primeira edição — a seleção nacional venceu a Grécia do Claudio Ranieri em casa e fora nas eliminatórias para a Euro-2016, o que rendeu manchetes em todo o mundo. Então, encontramos uma estatística que colocava as Ilhas Faroé como a nação de melhor torcida no mundo baseada no percentual populacional — o que tornou o país um destino óbvio para nós. Acredito que a maior surpresa foi ver o quão grande é o futebol na paisagem das Ilhas Faroé. Lá há campos por toda a parte: a metros do mar, no pé de penhascos e entre vilas remotas no meio do nada. Existem até casas em formato de bolas de futebol — é incrível.
O leitor pode esperar um destino diferente a cada edição, uma espécie de mix entre esportes e viagem?
Sim, é exatamente isso o que planejamos entregar! Glory é como um diário de viagem futebolístico, explorando o jogo em partes remotas, inusitadas e obscuras do mundo. Estamos mirando a possibilidade de fornecer um mix de destinos nas nossas próximas edições.
Quais são as características que fazem a Glory ser diferente de outras revistas de futebol na Inglaterra e ao redor do mundo?
Eu acho que olhamos para o futebol de forma diferente em relação a outras publicações. Eles podem falar sobre estatísticas, táticas ou rumores de transferências, mas nós queremos explorar a cultura do futebol. Há o aspecto da viagem, que nos faz documentar lados do jogo que a maioria das outras revistas não vão discutir, e o fato de que olhamos para o papel que o futebol tem na vida das pessoas além do aspecto comercial do esporte. Acho que a qualidade da nossa fotografia e do nosso design também se destaca na comparação com o resto.
“Há o aspecto da viagem, que nos faz documentar lados do jogo que a maioria das outras revistas não vão discutir”.
Acredita que a equipe da Glory tem uma visão mais particular do futebol e sua cultura pelo fato de em sua maioria serem torcedores de times pequenos, e pelo fato de que a revista é de Norwich (também uma cidade pequena)?
Acredito que até certo ponto sim, mas a forma como olhamos para o futebol reflete uma tendência mais ampla. As pessoas estão ficando fartas de terem que pagar 70 libras para verem seu time jogar em casa, quando na verdade o futebol está inundado de dinheiro. Elas estão cansadas da corrupção nos bastidores e querem voltar às raízes mais inocentes do jogo. Se você olhar pra times como o Dulwich Hamlet no Reino Unido então verá que existe uma sede por um futebol mais simples e puro, longe dos níveis de elite do jogo.
Em uma entrevista que deram para o site Box to Box Football, disseram que a revista não é “carregada de patrocínio”. Como esperam financeiramente viabilizar a impressão e a distribuição da Glory?
Nós temos que balancear nossa ética com as realidades comerciais de se produzir uma revista, mas não temos intensão de namorar grandes patrocinadores — isso é um conflito de interesses. Apenas não é o lado do futebol que queremos documentar. No momento somos autofinanciados, por isso é tão importante que nossos fãs invistam na primeira edição e comprem nossa revista. Esse aporte está ajudando a fazer futuras edições.
Ainda sobre impressão e circulação, qual será a periodicidade?
No momento, Glory é uma publicação bianual. Pesquisar destinos, visitar nossos locais favoritos, gravar, entrevistar, desenhar e escrever para uma revista inteira leva tempo, e não queremos apressar nada e potencialmente perder qualidade. Quando estivermos mais estabilizados e Glory tiver decolado um pouco mais, podemos pensar na possibilidade de sair trimestralmente.
Que dificuldades esperam nesse processo de tentar colocar a Glory na mesa dos leitores? Há uma sensação de que hoje em dia é muito difícil fazer as pessoas se interessarem pela leitura longa de futebol?
Na verdade acredito que existe um apetite real pela escrita de qualidade no futebol — a dificuldade é que o mercado está saturado. Existem incontáveis blogs e portais de notícias na internet, então seguir pelo caminho do impresso significa que somos capazes de cortar um pouco do barulho e mirar um tipo específico de leitor. Nosso trabalho é convencer as pessoas de tentar algo novo — achamos que a Glory fala por si só assim que os leitores a têm em mãos, mas as pessoas nem sempre estão preparadas para apostar em um novo produto.
Páginas da Glory:
Site, Twitter e Instagram
Visite o perfil de Bruno Rodrigues no Medium, com outros artigos sobre mídia esportiva.
medium.com/@bh_rodrigues
Clique no link e leia também:
http://www.verminososporfutebol.com.br/deu-no-jornal/jornal-ingles-foca-em-times-pequenos/
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