#FutebolAtrásDasGrades #4 – Presos fabricam uniformes esportivos como remição de pena no Ceará
Presídio de Itaitinga conta com duas fábricas, para ressocialização de presos através de trabalho
Por Larissa Cavalcante e Rafael Luis Azevedo
Parece uma fábrica como qualquer outra, não fossem as grades sempre fechadas. No Centro de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), em Itaitinga, a 27 km de Fortaleza, presos se conscientizam sobre seus erros através do trabalho. Assim, também aprendem um ofício que ajudará na reinserção à sociedade quando ganharem a liberdade.
Inaugurado em novembro de 2016, o maior presídio do Ceará conta com seis galpões industriais para instalação de empresas. No momento, duas fábricas têm a produção tocada por presos. Uma delas da D’Noite, que comercializa roupas de dormir, e a outra da Siker, principal fornecedora de material esportivo cearense.
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Na segunda, 10 presos fabricam calções e coletes esportivos. Ao todo, são cerca de 7 mil peças por mês. O expediente é de 40 horas semanais, de segunda a sexta. A participação é voluntária, mas o trabalho vira uma chance de sair da cela diariamente, para além do banho de sol e da visita de parentes que ocorrem aos fins de semana.
Como remuneração, cada preso recebe 75% do salário mínimo (R$ 702), sem encargos trabalhistas. O supervisor da equipe, também detento, ganha um salário cheio (R$ 937). Como outra contrapartida, o Estado oferece a remição de pena, com a redução de um dia a cada três trabalhados. Um incentivo para que eles desejem largar o ócio.
As empresas parceiras visam não somente o lucro, mas sim a contribuição social. Porém, acabam descobrindo talentos no projeto. “A direção da Siker já demonstrou interesse em permanecer com o supervisor da fábrica quando ele concluir a pena”, adianta Cristiane Gadelha, titular da Coordenadoria de Inclusão Social do Preso e do Egresso (Cispe), da Secretaria de Justiça do Ceará (Sejus).
“A direção da Siker já demonstrou interesse em permanecer com o supervisor da fábrica quando ele concluir a pena”. (Cristiane Gadelha, coordenadora da Cispe/Sejus)
Um orgulho para Francisco Charles da Silva, de 44 anos, preso há 12 por assassinato. E já perdoado, pelo menos por seu patrão. “O interno tem demonstrado uma excelente qualificação, e um alto interesse para que o projeto atenda seus objetivos”, elogia Carlos Galdino, diretor da empresa.
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Cada preso recebe 75% do salário mínimo e tem remição de um dia de pena a cada três trabalhados (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
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Edson Braga Júnior acredita que sentirá orgulho quando ver alguém vestindo os uniformes (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
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A Siker já demonstrou interesse em permanecer com Francisco Charles da Silva após a liberdade (Foto: Adriano Paiva/Verminosos por Futebol)
Equipe unida
A fábrica da Siker foi inaugurada em 2015, ainda na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II), prisão também localizada no complexo de Itaitinga. Em meio às rebeliões de maio de 2016, os trabalhos foram suspensos. Com a inauguração do Cepis, a produção ganhou novo endereço.
“Naquela época o grupo se dividiu, a gente chorou, mas felizmente estamos unidos de novo. Da equipe inicial cinco já estão em liberdade, e cinco seguem aqui”, enumera Charles, marceneiro antes de entrar para o mundo do crime. Sair dele, na visão da direção da Sejus, é muito mais fácil para quem tem a pena no presídio combinada à ação social.
“A gente buscou contribuir para a redução da violência, pois sem qualificação profissional fica difícil para o preso voltar ao convívio social”. (Carlos Galdino, diretor da Siker)
“Essa pessoa foi retirada da sociedade para se tornar melhor. E ela só se tornará melhor se investirmos no ser humano, na educação e na qualificação profissional”, opina Cristiane, também responsável por viabilizar empregos para os ex-presos. “Lá fora eles nos procuram, e a gente então encaminha para o mercado de trabalho”, explica.
Deve ser o futuro de Edson Braga Júnior, de 23 anos, uma das promessas do projeto. Preso em 2014 por cometer homicídio, ele assegura que aprendeu com o erro. “Foi um momento de raiva”. Sua liberdade virá em 2022. “Quando eu ver alguém usando o uniforme da gente, vou dizer: ‘Viche, foi nós que fizemos!'”, imagina. Pelo visto, uma produção não só de roupas, mas também de cidadãos.
> Larissa Cavalcante é mestranda em Administração pela UFC, e desenvolve pesquisa sobre empreendedorismo em penitenciárias cearenses.
Veja a reportagem em vídeo:
Confira as outras reportagens da série #FutebolAtrásDasGrades:
1 – Presídio cearense aposta em futebol para reinserir detentos à sociedade.
2 – Presídio cearense promove torneio de futebol para socialização de presos.
3 – Presídio do Ceará investe em costura de bolas para ocupação de detentos.
5 – “Todos merecem uma segunda chance”, defende coordenadora da Sejus.
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Queria muito uma chance dessa para meu filho.ja andei muito atrás, ninguém informa nada.queria que ele trabalhasse dentro do presídio. Meu sonho é que ele se profissionalize.E pra poucos.