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Papo sério

Clube que foi dono do Independência e se fundiu ao América quer voltar ao profissional

Fãs do Sete de Setembro, de BH, trabalham pela retomada do clube, que foi incorporado ao América

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O Sete de Setembro ressurgiu em 2019, após mais de duas décadas (Foto: Verminosos por Futebol)
O Sete de Setembro ressurgiu em 2019, após mais de duas décadas (Foto: Verminosos por Futebol)

Diferentemente de grandes centros do futebol brasileiro, Belo Horizonte não possui outros clubes profissionais além do seu trio mais famoso – Atlético, Cruzeiro e América. Não era assim até pouco tempo atrás, quando existia o Sete de Setembro. Ex-proprietário do estádio Independência, o time fundiu-se ao América, em 1997. Duas décadas e meia depois, torcedores trabalham por seu resgate.

Que clube é esse?

Fundado em 1913, o Sete de Setembro Futebol Clube foi um tradicional time de BH. Logo após a Copa do Mundo de 1950, herdou do governo mineiro o recém-construído estádio Raimundo Sampaio, que levava o nome de seu dirigente mais conhecido. Assim, acabou apelidado de Independência – uma referência à data de 7 de setembro, a Independência da República.

O Sete de Setembro se sustentou com o aluguel do estádio por muitos anos, até a inauguração do Mineirão, em 1965, pelo governo de Minas Gerais. O time nunca foi campeão mineiro, mas até 1976 participou de 47 edições da 1ª divisão do Estadual. Era presença frequente nas disputas locais contra o trio de grandes da capital.

A partir dos anos 70, no entanto, o Sete de Setembro passou a enfrentar dificuldades financeiras – principalmente em virtude do desinteresse de Atlético e Cruzeiro em jogar no Independência. Em paralelo, o América começou a nutrir o desejo de assumir o estádio que tanto costumava alugar.

O próprio presidente do Sete de Setembro, Raimundo Sampaio, que morreu em 1984, era um torcedor americano. Nesse contexto, em 1988, a diretoria do Sete decidiu ceder a propriedade do estádio ao América por 30 anos. Sem patrimônio, e afastado da elite mineira desde a década anterior, a situação se agravou.

Em crise, o Sete de Setembro se licenciou da Federação Mineira de Futebol, em 1997, e decidiu pela sua incorporação ao Conselho Deliberativo do América – levando junto suas posses, inclusive o estádio Independência, que agora seria do Coelho em definitivo.

O Sete de Setembro disputou a 3ª divisão mineira em 1997, ano da extinção (Foto: Reprodução)
O Sete de Setembro disputou a 3ª divisão mineira em 1997, ano da extinção (Foto: Reprodução)

Insatisfação com a fusão

A extinção do clube nunca foi aceita por um grupo de fãs do Sete de Setembro, como conta o torcedor Fabiano Rosa Campos, servidor público de 53 anos.

— Alguns fatores contribuíram para o acontecido: torcida pequena e desmotivada, resultados não favoráveis, pouca renda, dívidas acumuladas e principalmente o contrato de cessão do Independência para o América, e finalmente uma fusão sem sentido com o mesmo time, que tradicionalmente mantinha uma rivalidade histórica com o Sete de Setembro. A fusão ocasionou a transferência do principal patrimônio para o América sem nenhum tipo de consulta à torcida setembrina.

A torcida, que já não era numerosa, ficou órfã, envelheceu e diminuiu ainda mais. Parte migrou para o América, outros para o Atlético e o Cruzeiro. “Muitos descontentes com a fusão mantiveram a sua torcida exclusivamente ao Sete, sonhando com o retorno do time”, relata Fabiano. Pois esse dia chegou.

O Sete de Setembro administrou o Independência por quase quatro décadas (Foto: Reprodução)
O Sete de Setembro administrou o Independência por quase quatro décadas (Foto: Reprodução)

Retomada das cinzas

Em 2019, teve início um processo de retomada do Sete de Setembro. À frente, um grupo de antigos torcedores moradores da Zona Leste de BH, além de alguns ex-jogadores. “Em comum, a não conformação com a estranha fusão feita com o América”, registra Fabiano, presidente em exercício do novo clube.

De lá pra cá, o grupo promoveu alguns jogos do time master, e formou também uma equipe feminina. Em 2020, uma confraternização comemorou os 107 anos de fundação, no dia 7 de setembro – claro, a data de nascimento do clube. A intenção, agora, é formar categorias de base sub-17 e sub-20.

“Muitos descontentes com a fusão mantiveram a sua torcida exclusivamente ao Sete, sonhando com o retorno do time”. (Fabiano Rosa Campos)

Uma série de novas ações está em planos:

• Exposição de acervo histórico do Sete de Setembro no Museu do Futebol do estádio Mineirão.
• Confecção de 1.000 calendários de bolso e de 1.000 cartões postais comemorativos dos 70 anos do Independência, data que não teve comemoração em 2020.
• Apresentação do mascote Tigrão 22 – o 22 é referência ao tigre no Jogo do Bicho.
• Lançamento de revista com a história do Sete, com envio de exemplares para a escolas, bibliotecas e times de futebol.

Para financiar essa série de ações, o Sete de Setembro comercializa camisas a R$ 40 e R$ 80, canecas (R$ 30), bonés (R$ 30) e chaveiros (R$ 2).

Enquanto isso, o time vem utilizando provisoriamente um campo de várzea nos treinos. A ideia é assumir algum clube amador desativado, para ter um espaço próprio. “Estamos em negociação com a Prefeitura de Belo Horizonte”, adianta Fabiano. “É um começo, e como tal, repleto de planos e obstáculos”.

A camisa do Sete de Setembro é vendida pelo clube (Foto: Verminosos por Futebol)
O clube vende camisas para se financiar (Foto: Verminosos por Futebol)
Desconhecimento do público

Passados tantos anos de inatividade, porém, o Sete de Setembro luta por um reconhecimento. “O clube é desconhecido da maior parte do público esportivo mineiro, e até da cidade de Belo Horizonte”, atesta Fabiano, crítico da escolha do América de esquecer a história do antigo dono do Independência.

“O acervo do time desapareceu após a posse apressada do estádio setembrino. Um de nossos troféus foi encontrado fortuitamente em um brechó”, denuncia o presidente do novo clube. “Talvez a intenção dos dirigentes era que realmente a memória do Sete de Setembro sumisse”.

O único, e maior bem, segue de pé – sua história, baseada em relatos orais que não se apagaram com o tempo. É nisso que Fabiano e os amigos se apegam. Por ironia, até hoje entre alguns moradores de BH mais velhos, inclusive torcedores de outros clubes, o Independência é chamado de… Campo do Sete.


Outro lado:

Sobre a crítica da atual diretoria do Sete de Setembro em relação à postura do América frente a fusão, o Verminosos por Futebol buscou a assessoria de imprensa do clube, mas não houve um posicionamento oficial. Também procuramos pesquisadores do América e do Independência, mas todos eles preferiram não comentar o lamento dos setembrinos. Ponderaram, porém, que até hoje o estádio do América carrega o nome do principal dirigente do Sete de Setembro.


Curiosidades:

> O Coimbra Sports, clube empresa ligado ao grupo financeiro BMG, tem seu escritório em Belo Horizonte, mas o seu centro de treinamento fica na cidade de Contagem, na região metropolitana.

> Na fase amadora do futebol mineiro, houve outros clubes em BH. Na fase profissional, existiu também o Renascença, mantido por uma empresa têxtil de mesmo nome, dono do antigo estádio dos Eucaliptos, e extinto em 1967. No local da fábrica está hoje a Universidade Salgado Oliveira, a Universo.

> Um time amador de BH, o Venda Nova, tradicional formador de talentos, também se aventurou no profissionalismo, disputando a 2ª divisão.


Serviço:

Conheça perfis de Instagram que preservam a história do Sete de Setembro.

@setedesetembrofcbh | @memoriasetembrina | @basedosete | @setedesetembrofutfemino

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