Clube que foi dono do Independência e se fundiu ao América quer voltar ao profissional
Fãs do Sete de Setembro, de BH, trabalham pela retomada do clube, que foi incorporado ao América
Diferentemente de grandes centros do futebol brasileiro, Belo Horizonte não possui outros clubes profissionais além do seu trio mais famoso – Atlético, Cruzeiro e América. Não era assim até pouco tempo atrás, quando existia o Sete de Setembro. Ex-proprietário do estádio Independência, o time fundiu-se ao América, em 1997. Duas décadas e meia depois, torcedores trabalham por seu resgate.
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Que clube é esse?
Fundado em 1913, o Sete de Setembro Futebol Clube foi um tradicional time de BH. Logo após a Copa do Mundo de 1950, herdou do governo mineiro o recém-construído estádio Raimundo Sampaio, que levava o nome de seu dirigente mais conhecido. Assim, acabou apelidado de Independência – uma referência à data de 7 de setembro, a Independência da República.
O Sete de Setembro se sustentou com o aluguel do estádio por muitos anos, até a inauguração do Mineirão, em 1965, pelo governo de Minas Gerais. O time nunca foi campeão mineiro, mas até 1976 participou de 47 edições da 1ª divisão do Estadual. Era presença frequente nas disputas locais contra o trio de grandes da capital.
A partir dos anos 70, no entanto, o Sete de Setembro passou a enfrentar dificuldades financeiras – principalmente em virtude do desinteresse de Atlético e Cruzeiro em jogar no Independência. Em paralelo, o América começou a nutrir o desejo de assumir o estádio que tanto costumava alugar.
O próprio presidente do Sete de Setembro, Raimundo Sampaio, que morreu em 1984, era um torcedor americano. Nesse contexto, em 1988, a diretoria do Sete decidiu ceder a propriedade do estádio ao América por 30 anos. Sem patrimônio, e afastado da elite mineira desde a década anterior, a situação se agravou.
Em crise, o Sete de Setembro se licenciou da Federação Mineira de Futebol, em 1997, e decidiu pela sua incorporação ao Conselho Deliberativo do América – levando junto suas posses, inclusive o estádio Independência, que agora seria do Coelho em definitivo.
Insatisfação com a fusão
A extinção do clube nunca foi aceita por um grupo de fãs do Sete de Setembro, como conta o torcedor Fabiano Rosa Campos, servidor público de 53 anos.
— Alguns fatores contribuíram para o acontecido: torcida pequena e desmotivada, resultados não favoráveis, pouca renda, dívidas acumuladas e principalmente o contrato de cessão do Independência para o América, e finalmente uma fusão sem sentido com o mesmo time, que tradicionalmente mantinha uma rivalidade histórica com o Sete de Setembro. A fusão ocasionou a transferência do principal patrimônio para o América sem nenhum tipo de consulta à torcida setembrina.
A torcida, que já não era numerosa, ficou órfã, envelheceu e diminuiu ainda mais. Parte migrou para o América, outros para o Atlético e o Cruzeiro. “Muitos descontentes com a fusão mantiveram a sua torcida exclusivamente ao Sete, sonhando com o retorno do time”, relata Fabiano. Pois esse dia chegou.
Retomada das cinzas
Em 2019, teve início um processo de retomada do Sete de Setembro. À frente, um grupo de antigos torcedores moradores da Zona Leste de BH, além de alguns ex-jogadores. “Em comum, a não conformação com a estranha fusão feita com o América”, registra Fabiano, presidente em exercício do novo clube.
De lá pra cá, o grupo promoveu alguns jogos do time master, e formou também uma equipe feminina. Em 2020, uma confraternização comemorou os 107 anos de fundação, no dia 7 de setembro – claro, a data de nascimento do clube. A intenção, agora, é formar categorias de base sub-17 e sub-20.
“Muitos descontentes com a fusão mantiveram a sua torcida exclusivamente ao Sete, sonhando com o retorno do time”. (Fabiano Rosa Campos)
Uma série de novas ações está em planos:
• Exposição de acervo histórico do Sete de Setembro no Museu do Futebol do estádio Mineirão.
• Confecção de 1.000 calendários de bolso e de 1.000 cartões postais comemorativos dos 70 anos do Independência, data que não teve comemoração em 2020.
• Apresentação do mascote Tigrão 22 – o 22 é referência ao tigre no Jogo do Bicho.
• Lançamento de revista com a história do Sete, com envio de exemplares para a escolas, bibliotecas e times de futebol.Para financiar essa série de ações, o Sete de Setembro comercializa camisas a R$ 40 e R$ 80, canecas (R$ 30), bonés (R$ 30) e chaveiros (R$ 2).
Enquanto isso, o time vem utilizando provisoriamente um campo de várzea nos treinos. A ideia é assumir algum clube amador desativado, para ter um espaço próprio. “Estamos em negociação com a Prefeitura de Belo Horizonte”, adianta Fabiano. “É um começo, e como tal, repleto de planos e obstáculos”.
Desconhecimento do público
Passados tantos anos de inatividade, porém, o Sete de Setembro luta por um reconhecimento. “O clube é desconhecido da maior parte do público esportivo mineiro, e até da cidade de Belo Horizonte”, atesta Fabiano, crítico da escolha do América de esquecer a história do antigo dono do Independência.
“O acervo do time desapareceu após a posse apressada do estádio setembrino. Um de nossos troféus foi encontrado fortuitamente em um brechó”, denuncia o presidente do novo clube. “Talvez a intenção dos dirigentes era que realmente a memória do Sete de Setembro sumisse”.
O único, e maior bem, segue de pé – sua história, baseada em relatos orais que não se apagaram com o tempo. É nisso que Fabiano e os amigos se apegam. Por ironia, até hoje entre alguns moradores de BH mais velhos, inclusive torcedores de outros clubes, o Independência é chamado de… Campo do Sete.
Outro lado:
Sobre a crítica da atual diretoria do Sete de Setembro em relação à postura do América frente a fusão, o Verminosos por Futebol buscou a assessoria de imprensa do clube, mas não houve um posicionamento oficial. Também procuramos pesquisadores do América e do Independência, mas todos eles preferiram não comentar o lamento dos setembrinos. Ponderaram, porém, que até hoje o estádio do América carrega o nome do principal dirigente do Sete de Setembro.
Curiosidades:
> O Coimbra Sports, clube empresa ligado ao grupo financeiro BMG, tem seu escritório em Belo Horizonte, mas o seu centro de treinamento fica na cidade de Contagem, na região metropolitana.
> Na fase amadora do futebol mineiro, houve outros clubes em BH. Na fase profissional, existiu também o Renascença, mantido por uma empresa têxtil de mesmo nome, dono do antigo estádio dos Eucaliptos, e extinto em 1967. No local da fábrica está hoje a Universidade Salgado Oliveira, a Universo.
> Um time amador de BH, o Venda Nova, tradicional formador de talentos, também se aventurou no profissionalismo, disputando a 2ª divisão.
Serviço:
Conheça perfis de Instagram que preservam a história do Sete de Setembro.
@setedesetembrofcbh | @memoriasetembrina | @basedosete | @setedesetembrofutfemino
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