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Torcida do Ferrão: mais politizada do país

Organizada do Ferroviário, de Fortaleza, tem perfil único no Brasil, sendo contrária a preconceitos, a violência e a mercantilização no […]

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Organizada do Ferroviário, de Fortaleza, tem perfil único no Brasil, sendo contrária a preconceitos, a violência e a mercantilização no futebol

A Ultras Resistência Coral, torcida organizada do Ferroviário fundada em 2005, é contra preconceito, violência e mercantilização no futebol (Foto: Divulgação)
A Ultras Resistência Coral, torcida organizada do Ferroviário fundada em 2005, é contrária a preconceito, violência e mercantilização no futebol da atualidade (Foto: Divulgação)

Se o futebol é considerado ópio do povo por alguns, uma torcida organizada cearense faz a sua parte para politizar a voz que emana das arquibancadas. Com perfil único no país, os integrantes da Ultras Resistência Coral, ligada ao Ferroviário, são contrários a preconceitos que mancham o jogo, como racismo, machismo, homofobia e xenofobia, e combatem a violência entre torcedores rivais e a mercantilização do esporte.

Em 2015, o grupo completa 10 anos de atuação nas arquibancadas, com suas faixas diferenciadas, como “Nem guerra entre torcidas. Nem paz entre classes”, “Resistência Antimachista” e “Aliança Operária Anti-racista”. Sua fundação, em 31 de julho de 2005, foi ideia de dois torcedores corais, um socialista/comunista e outro anarquista. Atualmente, eles são cerca de 20 membros, que rejeitam financiamento do clube.

Curiosamente, na torcida não há presidente nem líderes, diferentemente de outros grupos, inclusive do próprio Ferroviário. “Alguns integrantes são militantes de organizações políticas, sendo filiados a partidos de esquerda ou organizações de cunho anarquista, e participam de lutas em movimentos sociais, populares e sindicais”, indica o professor e sociólogo Leonardo Carneiro, de 33 anos.

A fundação do Ultras foi ideia de dois corais, um socialista/comunista e outro anarquista (Foto: Divulgação)
A fundação do Ultras foi ideia de dois corais, socialista/comunista e anarquista (Foto: Divulgação)

Se havia time onde uma torcida com esse perfil poderia surgir, seria o Ferroviário, terceiro clube mais tradicional do futebol cearense. Em contraposição a Ceará e Fortaleza, surgidos entre fortalezenses de famílias influentes na década de 1910, o Ferrim (para os mais jovens, Ferrão) foi criado por trabalhadores ferroviários, em 1933. E, em seus primeiros anos, contou com jogadores-funcionários da extinta Rede de Viação Cearense (RVC).

Identificado com a classe operária, o Ferroviário virou terreno fértil para os ideais dos Ultras. “Diante de um processo cada vez mais intenso de mercantilização e elitização do futebol e uma consequente violação de direitos dos/as torcedores/as, sentimos a necessidade de levar a luta sociopolítica também aos estádios”, reflete Leonardo. Uma discussão importante que esse torcedor coral trata abaixo, em entrevista ao Verminosos por Futebol.

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Verminosos por Futebol – Diferentemente da maioria das torcidas organizadas do Brasil, essa tem um perfil politizado. Por quê?
Leonardo Carneiro – Diante de um processo cada vez mais intenso e avançado de mercantilização e elitização do futebol na atualidade e uma consequente perca e violação de direitos dos/as torcedores/as, sentimos a necessidade de levar a luta sociopolítica também aos estádios. Entendemos que a luta anticapitalista deve ser travada nas mais diversas esferas sociais, incluindo o espaço do futebol, já que esse esporte é um dos que mais sofrem as consequências da lógica capitalista vigente.

Verminosos – Vocês têm algo contra preconceito a minorias?
Leonardo – Somos veementemente contra o racismo, a xenofobia, o machismo, a homofobia e outros tipos de preconceitos, tão presentes na sociedade atual e, infelizmente, também nos estádios, através dos torcedores comuns e das torcidas organizadas tradicionais. Assim, procuramos combater essas manifestações preconceituosas nos estádios, através de faixas nossas, como, por exemplo, as que têm os dizeres “Resistência Antimachista” e “Aliança Operária Anti-racista”.

A luta anticapitalista deve ser travada nas mais diversas esferas sociais, incluindo o espaço do futebol”.

Verminoso – O que acham da violência entre torcidas de clubes rivais ou mesmo do próprio clube?
Leonardo – Avaliamos que esse tipo de conflito é equivocado, visto que a maioria dos componentes das torcidas organizadas são pessoas que pertencem a mesma classe social e que, portanto, sofrem problemas e opressões semelhantes decorrentes do sistema capitalista e do atual processo de mercantilização/elitização do futebol. Afirmamos, portanto, que os verdadeiros inimigos dos/as torcedores/as não estão nas torcidas dos clubes adversários e, sim, nas esferas do poder que comandam o sistema político vigente e o futebol moderno. Daí um dos nossos lemas, contido numa faixa nossa: “Nem guerra entre torcidas. Nem paz entre classes”.

Leonardo Carneiro, de 33 anos, professor e sociólogo, cuida da comunicação da torcida (Foto: Acervo pessoal)
O sociólogo Leonardo Carneiro, de 33 anos, cuida da comunicação da torcida (Foto: Acervo pessoal)

Verminosos – Vocês recebem dinheiro do clube para ir aos jogos?
Leonardo – Não. Procuramos manter nossa independência e autonomia de classe e, por este motivo, buscamos arrecadar finanças de outras formas, através da venda de materiais, realização de atividades políticas /festivas e cotizações entre os/as integrantes de nossa torcida.

Verminosos – Esse perfil diferenciado já rendeu algum problema na convivência com outras organizadas do clube, com a própria diretoria ou com órgãos de segurança?
Leonardo – Nossa aparição nos estádios chamou atenção e despertou admiração de muitos/as torcedores/as, além de ter gerado também alguns destaques na mídia. Isso incomodou alguns membros da torcida organizada mais antiga do Ferroviário. Mas com o passar do tempo as coisas se acertaram e hoje nossa relação é boa, tranquila e, até mesmo, de parceria em algumas ocasiões. Com relação às diretorias, em geral, nossa convivência foi/é boa. Fomos/somos respeitados por elas e, até mesmo admirados por alguns membros de diretorias que por lá passaram. O único presidente do clube que tivemos uma relação conflituosa foi com o Paulo Wagner. Diante do caminho que o clube estava tomando sob sua direção, nos engajamos na luta por sua saída da diretoria, inclusive levando ao estádio faixa em alusão a essa reivindicação. Já com os órgãos de segurança já tivemos diversos problemas, devido ao fato dos mesmos, em mais de uma ocasião, impedir a entrada ou colocação de faixas nossas nos estádios. Com a implantação do Estatuto do Torcedor, essas restrições se intensificaram, aumentando os problemas.

Os verdadeiros inimigos dos/as torcedores/as não estão nas torcidas dos clubes adversários e, sim, nas esferas do poder que comandam o sistema político vigente e o futebol moderno”.

Verminoso – Diante desse novo tempo, de enxurrada financeira de prefeituras e empresários da bola em clubes, vocês acham que o Ferroviário, hoje na 2ª divisão cearense, voltará ao convívio dos grandes do futebol brasileiro?
Leonardo – É um tremendo desafio, um processo muito difícil. Mas temos esperança que um dia isso possa acontecer, com o fortalecimento de um trabalho de base e, claro, contando com o apoio de seus/suas torcedores/as. A força de sua bonita história não pode ser menosprezada.

Conheça a Ultras Resistência Coral:
resistenciacoral.blogspot.com.br
www.facebook.com/resistenciacoral

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Cânticos da torcida organizada:

Ultras Resistência Coral
Nasceu da luta social
Pra combater qualquer discriminação
No nosso futebol e em qualquer canto da nação
Não somos meros torcedores do Ferrão
Somos trabalhadores que engrandecem um país
Não admitindo qualquer forma de exclusão
Igual a que sofre o povão e o Ferrão
História bonita do nosso Ferroviário
Que surgiu da mão do operário
Tal qual a Resistência Coral
Na luta de classes somos revolucionários
A Ultras Resistência Coral
É hoje opção de nossas vidas
Nem paz entre as classes
Nem guerra entre as torcidas
A Ultras Resistência Coral
De esquerda, anti-racista, anti-capitalista
Nada diminui nossa paixão incendiária
Ferroviário: orgulho da classe operária!

Não somos homofóbicos!
Não somos machistas!
Somos da Resistência
Ferrenhos Antirracistas!

O Ferrão tem seus amigos
que são os trabalhadores
Ele é dos operários
que são os seus fundadores
Ó torcedores amigos
eu estou sempre ao seu lado
pois o Ferroviário é do operariado!

Esse é meu time, essa é minha gente
São os operários, a classe insurgente
Por isso eu sou Ferroviário
e com orgulho eu canto essa canção
Somos a Revolução!
Sim senhor! A revolução,
Sim senhor, sim senhor, Somos a revolução!
A torcida do Ferrão
Sim senhor, sim senhor, Somos a revolução!
Viva o nosso Ferrão!

Clique no link e leia também:

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www.verminososporfutebol.com.br/viagem-no-tempo/centenario-valdemar-caracas-resgata-vida

12 respostas para “Torcida do Ferrão: mais politizada do país”

  1. Torcida sensacional! Infelizmente não a conhecia até me deparar com essa matéria. A partir de então, o Ferroviário entrou na lista dos clubes que quero ver crescer!

  2. Matéria fenomenal, Rafael. Escrevo para o Doentes por Futebol e só tenho que agradecê-lo por trazer tanta informação legal a quem é acostumado e forçado a acompanhar pelos noticiários só o que acontece no eixo Rio-SP. Parabéns. Abraços!

  3. Parabéns e obrigado Rafael e pessoal da Ultra Resistência Coral por me fazer acreditar que apesar das “CBFs” que perambulam por ai ainda existe Vida Inteligente no Futebol Brasileiro

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