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Como é ser vizinho do estádio do West Ham, clube famoso pelo filme Hooligans

O jornalista paulista Victor Caselli conta como foi a experiência de ser vizinho do West Ham, de Londres

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O West Ham assumiu o Estádio Olímpico de Londres, pertinho do antigo Boleyn Ground (Foto: Soccerblog)
O West Ham assumiu o Estádio Olímpico, pertinho do antigo Boleyn Ground (Foto: Soccerblog)

Por Victor Caselli

Uma das principais tarefas a se fazer quando chegamos para viver em outro país é achar um lugar para morar. Se você não conhece ninguém que possa te hospedar ou que te ajude a encontrar um local, a situação fica ainda mais difícil.

Minha chefe tinha me dado três noites no hotel em que trabalharia até conseguir um quarto em definitivo para mim. Sim, um quarto, porque um apartamento, uma casa ou até mesmo um estúdio em Londres é muito caro para bancar sozinho. Sempre surgem questões do tipo “será que este é um bom bairro?”, “me sentirei seguro e confortável?”, “meus companheiros serão legais?”, “quais são os estabelecimentos perto daqui?”.

Além do preço, temos que avaliar se o quarto é bom, se a região é segura, quanto tempo levamos até o trabalho, e quais são os meios de transporte que temos que utilizar. Nos primeiros dias visitei alguns quartos, mas não fechei com nenhum. O meu tempo de hóspede no hotel estava acabando, precisava achar uma moradia urgentemente.

Simpatia pelo West Ham

Tinha chegado à Inglaterra numa quarta-feira, na terceira semana de novembro. No meu primeiro sábado, tinha mais duas visitas marcadas. Uma delas, com um casal brasileiro, deu para trás. Já a segunda, uma angolana que morava com sua filha, não me respondia, porém eu já estava na estação Canning Town, perto de seu apartamento. Sem saber o que fazer, resolvi ir a um jogo de futebol que aconteceria nas redondezas.

Desembarquei duas estações depois, em Stratford, a última parada da Jubilee Line. O jogo era West Ham x Tottenham no Estádio Olímpico de Londres, pelo Campeonato Inglês. Sempre tive simpatia pelo West Ham, por ser o primeiro time em que meu ídolo Carlos Tévez jogou na Europa, após deixar o Corinthians, time que torço, e por causa do filme Hooligans.

Alcancei a bilheteria dois minutos depois de a partida ter começado e não consegui comprar ingresso. Pontualidade britânica ao pé da letra. Triste, voltei à estação, onde consegui contato com Ariette, a angolana. Cheguei a seu apartamento, conversamos um pouco e logo fechamos um contrato verbal. Finalmente tinha encontrado um quarto ideal, grande, com cama de casal e uma varanda.

Eu só poderia me mudar na sexta-feira seguinte, já que os antigos inquilinos, também brasileiros, sairiam nessa data. Então, depois de algumas noites em meu hotel, me hospedei em um hostel perto de onde trabalharia, em South Kensington, na região oeste de Londres.

O estádio Olímpico de Londres possui 80 mil lugares (Foto: Agência Brasil)
O Estádio Olímpico de Londres, inaugurado em 2012, possui 80 mil lugares (Foto: Agência Brasil)

O West fica no leste

Curiosamente, ao contrário do que eu pensava, o West Ham é um clube do leste londrino, e não do oeste, como o nome indica – para quem curte futebol inglês, já deve ter ouvido, em tom de brincadeira, que a tradução do nome do clube seria “Presunto do oeste”. Assim como o Corinthians em São Paulo, o West Ham tem raízes no leste da cidade.

Ambas são grandes áreas mais afastadas do centro e com menor poder aquisitivo, o que mudou um pouco em Londres após as Olimpíadas de 2012, com a construção do estádio e do centro comercial Westfield, em Stratford, trazendo mais investimentos para a região.

A 15 minutos de lá, em Canning Town, seria onde eu moraria. Confesso que, apesar de o apartamento ser muito bom, o bairro não era dos melhores. Longe do meu trabalho, havia poucas opções de lazer, mas algum comércio e muitas residências. Como tinha gostado da acomodação e não queria perdê-la, acabei optando por lá mesmo.

O mais curioso é que, mesmo só sabendo após me mudar, da sacada do meu quarto podia ver as luzes do Estádio Olímpico, onde o West Ham manda seus jogos. Se eu já acompanhava a equipe antes, agora tinha mais motivos para continuar torcendo por ela. Quando você mora em um lugar, geralmente acaba criando um vínculo afetivo com ele. E foi a partir daí que comecei a me identificar com o leste de Londres.

Logo que cheguei, conheci Pablo, sobrinho de um conhecido do meu pai, que, assim como inúmeros brasileiros, trabalhava como motoboy na capital inglesa. Pegamos uma boa amizade e saímos algumas vezes. Assim como eu, ele vivia em East London, a menos de 20 minutos de distância de onde eu morava. E da janela de seu quarto também se podia ver, com mais clareza ainda, o estádio em Stratford, que ficava a poucos metros de seu prédio. Que coincidência!

Curiosamente, ao contrário do que eu pensava, o West Ham é um clube do leste londrino, e não do oeste, como o nome indica.

Uma Londres desconhecida dos turistas

Pouco a pouco fui pegando carinho por essa zona. É uma parte de Londres que não é tão turística e, apesar de ter um dos maiores shoppings da Europa, o Westfields, a maioria das pessoas que por lá transitam são residentes locais. Ao contrário do Big Ben ou da London Eye, esta Londres passa despercebida para a maioria dos visitantes. Também por isso tenho tal apreço.

O Westfields, por certo, era um dos lugares em que eu mais gostava de ir. Como bom paulistano, adoro um shopping, mesmo que não compre nada. Só ia para passear, para deixar a solidão em casa. Atravessando a passarela que liga a estação de Stratford ao centro comercial, sempre me emocionava ao ver o estádio ao fundo, refletido pela luz do sol em pleno inverno londrino.

Mesmo que a Inglaterra nunca tenha sido um país que me chamasse tanto a atenção, poder viver perto daquela construção que via pela televisão e pelo videogame me enchia de felicidade. Estava realizando mais um sonho. Graças às oportunidades que tive, e à minha disciplina e insistência, pude viajar através do meu trabalho.

Enquanto alguns julgavam meu emprego, tive a humildade de aceitá-lo e conhecer lugares que sempre sonhei. Mais uma vez acredito no destino: tudo o que aconteceu me fez trabalhar na área que sempre gostei. Não me canso de dizer que sou abençoado e que tudo tem seu tempo.

Mais tarde, descobri outro fato que me chocou. Só podia ser obra do destino. No final da rua em que eu morava, a Barking Road, ficava o antigo estádio do West Ham, o Boleyn Ground, demolido em 2016. Hoje, no local, há diversos conjuntos habitacionais, mas mesmo assim pude sentir a energia que havia ali antigamente. Era como se fosse um clube de bairro, de origem humilde, de famílias simples e torcedores operários que reclamam que o novo estádio não tem alma como o antigo.

O Boleyn Ground, também chamado de Upton Park, era famoso pelo seu charme, sobretudo, pelas bolhas que eram soltas enquanto a torcida dos Hammers cantava I am forever blowing bubbles. Posteriormente, tive a oportunidade de ver um jogo do time no Estádio Olímpico, onde o mesmo ritual é feito. Apesar de a experiência ter sido incrível, gostaria de ter conhecido o Boleyn Ground, preferido pela maioria dos torcedores. Independentemente de onde estiver jogando, sempre estarei com o leste de Londres e com o West Ham.

> O jornalista Victor Caselli, pós-graduado em Jornalismo de Viagens pela Universidade Autônoma de Barcelona, é autor dos livros “Futebol Universitário: Brasil x EUA”, “Ayakkabi” e “Crônicas de Viagem” e cofundador do blog de viagens porsuszapatos.com. Entre 2019 e 2020, morou em Londres e foi recepcionista no hotel Ibis Styles Gloucester Road. Este artigo faz parte do livro “Crônicas de Viagem”, com histórias de quando viveu na Europa.

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