Afinal, o que é Fair Play Financeiro? Entenda o mecanismo que veio para ficar
Depois de investigações a PSG e Manchester City, irrigados por petrodólares, a regra ganhou força
No início do ano, o Manchester City foi suspenso da Liga dos Campeões da Europa por duas temporadas. Após recurso a Corte Arbitral do Esporte, a punição foi revertida a multa de 10 milhões de euros. O PSG também já foi investigado por questões similares. Em comum aos dois, o descumprimento ao Fair Play Financeiro.
Mas, afinal, o que é esse tal de “Jogo Limpo Financeiro”?
Foi um mecanismo adotado pela federação europeia, a Uefa, em 2010, inspirado em iniciativas já praticadas em ligas do continente, como na Alemanha, Itália e Holanda. Em resumo, a ideia é obrigar que os clubes provem que pagaram suas contas – seja com outros times, jogadores, federações e autoridades fiscais.
Inicialmente, a Uefa permitiu que os clubes tivessem, no máximo, 5 milhões de euros de déficit a cada três temporadas. Em 2015, o limite foi ampliado para 30 milhões, que poderiam ser pagos com fundos particulares dos proprietários. E esse aporte não pode representar mais de 30% das receitas totais da equipe.
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Manobras dos endinheirados
É aí que entram as manobras dos “novos ricos” do futebol europeu, recentemente adquiridos por bilionários.
Documentos vazados indicam que o próprio dono do Manchester City, o xeique Mansour bin Zayed Al Nahyan, da família real que governa os Emirados Árabes, teria financiado 59,5 dos 67,5 milhões de libras pagos pela empresa aérea Etihad para estampar sua marca na camisa do time.
A quantia teria sido paga pela Abu Dhabi United Group, empresa de Mansour, o que é ilegal pelas regras da Uefa.
Já o PSG, comprado pela empresa Qatar Sports Investments, da família real do Qatar, é suspeito de manobras parecidas. Em 2017, o clube contratou Neymar na transação mais cara da história (222 milhões de euros), por meio de um jeitinho.
De acordo com a Uefa, o jogador virou embaixador da Copa do Mundo de 2022, e com seu pagamento quitou a multa rescisória com o Barcelona, evitando que o PSG fosse responsabilizado pelo gasto. Uma espécie de “pedalada financeira”.
Confirmando-se uma irregularidade, um clube pode receber diferentes sanções. A do Manchester City, que depois acabou revertida, foi a segunda maior na escala, abaixo somente da retirada de um título, até hoje nunca aplicada pela entidade.
Desenvolvimento sustentável
O crescimento do futebol nas últimas décadas atraiu toda sorte de investidor, sobretudo na Europa. Por isso o movimento da Uefa, preocupada com a imagem do jogo.
“O Fair Play Financeiro visa o desenvolvimento sustentável, sem lavagem de dinheiro”, avalia Pedro Daniel, diretor-executivo da Ernst & Young, em entrevista ao time da Betway, site de esporte bet. “Os donos têm permissão para fazer aportes de até 30% da receita. Se não passar disso, não há porque punir”.
O Brasil vai entrar nessa
A discussão já chegou ao Brasil, com uma futura adoção do mecanismo entre os clubes do país. “O Fair Play Financeiro não é um movimento socialista, que busca o equilíbrio financeiro entre os clubes. Se você tem mais dinheiro, você vai gastar mais”, esclarece Pedro Daniel.
No futebol brasileiro, onde já foram inúmeros os casos de clubes alçados ao topo por meio de parcerias, e que depois ficaram com um rastro de dívidas a pagar, o mecanismo promete causar impacto significativo.
O Fair Play Financeiro não tem a intenção de equiparar concorrentes, tranquiliza o especialista. Times com mais dinheiro, como o Flamengo, terão permissão para gastar muito mais do que clubes endividados. A ideia não é rebaixar quem está no topo das finanças, mas fazer quem está embaixo esforçar-se para subir.
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