O centenário do título gaúcho do Grêmio Bagé em 1925
O Grêmio Bagé conquistou o maior título de sua história em 22 de novembro de 1925, vencendo todos os adversários no Campeonato Gaúcho daquele ano

Por Messias Stabile Fortes
Há 100 anos o torcedor do lado amarelo e preto de Bagé poderia comparecer ao estádio Pedra Moura com algumas dúvidas, mas com uma clara certeza: o Grêmio Esportivo Bagé não iria decepcioná-lo. A sintonia entre jogadores e torcida se estendeu para além da cidade pampeana. O time se tornou campeão gaúcho derrotando o Grêmio, tendo ápice com uma honraria da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual CBF.
Cenário do futebol gaúcho no início do século XX
A distância cronológica também sinaliza uma mudança do Campeonato Gaúcho em 1925. A competição possuía um formato diferente dos tempos atuais. Durante 42 anos (1919-1961, com exceção de 1923 e 1924, em que não houve a disputa do torneio), apenas clubes campeões de cada região do estado jogavam o campeonato.
Além do regulamento, o contexto socioeconômico do estado contribuía para a força dos times do interior gaúcho, que muitas vezes foram finalistas/campeões nas duas primeiras décadas de competição. “As regiões Sul e Fronteira eram fortes e havia muito dinheiro entre as oligarquias pastoris. Isso serve para explicar como os times do interior se desenvolveram mais rapidamente em relação aos da capital”, pontuam Cléber Grabauska e Gustavo Manhago, em seu livro “100 Vezes Gauchão: a História Centenária de uma Paixão”.
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Neste cenário foi fundado o Grêmio Bagé, em 1920, a partir da união entre o Sport Club 14 de Julho e o Sport Club Rio Branco. No mesmo ano, o Guarany trouxe o primeiro Campeonato Gaúcho para a cidade. Ver o vizinho campeão estadual, e você não, levantou uma insatisfação para o clube jalde-negro.
A primeira chance de igualar o principal adversário aconteceu em 1922, após o Bagé vencer o primeiro Campeonato Municipal de sua história. Porém, o clube ficou em último lugar no quadrangular final, com uma vitória e duas derrotas. A espera para conquistar a principal competição do Rio Grande do Sul demoraria um curto tempo.
O Grêmio Bagé buscaria o bicampeonato municipal em 1925, para se transformar no principal clube local na época. A busca por títulos era um fator fundamental para aquela equipe. “Todos que participaram do certame – jogadores e dirigentes – não se encontram mais por aqui. Passaram aos descendentes paixão e a alegria daquele ano”, conforme aponta a assistente social Sonia Maria Vieira Alcalde, uma das autoras do livro comemorativo do centenário do Grêmio Bagé, que será lançado neste ano, aproveitando as festividades da principal conquista.
O adversário era o Guarany, que tentou mostrar suas forças, mas foi derrotado em um Pedra Moura lotado por 3 a 1. Mesmo com o apoio massivo da torcida alvirrubra no jogo derradeiro, o Bagé não sentiu o fator contrário e venceu por 1 a 0. Grêmio Bagé bicampeão municipal de 1925. Contudo, o Citadino era pouco para aquele time, que tinha como objetivo ser a melhor equipe do Rio Grande do Sul naquele ano.
Se queria conquistar o estadual, o Grêmio Esportivo Bagé deveria montar um elenco à altura dos principais times do período. O fator local contribuiria para a montagem de um plantel com a presença charrua. Da escalação principal, havia dois uruguaios: o meio-campo Catulino Moreira e o atacante Pascoalito.
Os jornalistas Cléber Grabauska e Gustavo Manhago afirmam que esse fato era corriqueiro na época. “As contratações eram facilitadas pela proximidade entre os dois países e pelo poderio econômico da época. A força da pecuária movimentava o dinheiro de quem ajudava os clubes”, destacam.
Os Imortais de 1925
O primeiro time a entrar no caminho do clube bageense foi o Grêmio Santanense, de Santana do Livramento, cidade ao lado de Bagé. O Bagé venceu por 3 a 1 no Pedra Moura e avançou para a decisão. A final seria disputada contra o Grêmio do lendário goleiro Eurico Lara, que queria conquistar o seu terceiro título do Gauchão.
O capítulo mais importante dos 125 anos do Grêmio Bagé foi realizado fora do seu território. O palco era o Estádio da Baixada, a primeira casa do clube porto-alegrense. Em um local tão histórico para o futebol gaúcho, o apoio da torcida gremista chegava a atrapalhar o rendimento dos adversários nas partidas e, por isso, temiam que o Bagé ficasse com o vice-campeonato, mas aquele time jalde-negro era diferente.

O Estádio da Baixada, em Porto Alegre, foi o palco da maior conquista da história do Grêmio Bagé (Foto: CP Memória) Naquela tarde de 22 de novembro, o atacante Oliveira abriu o placar para o Bagé, mas Feio empatou para o Grêmio. A partida continuou interessante, contudo, parecia que se encaminharia para 1 a 1. Eis que Oliveira mostra que estava com faro de gol naquele dia e marcou gol da vitória, levando a torcida jalde-negra ao êxtase.
O clube do interior vencia o favorito da competição, em plena Baixada, algo inédito até então. Grêmio Bagé campeão gaúcho de 1925. A festa se estendeu para além do estádio de Porto Alegre. “No retorno, o time encontrou a cidade em festa”, completa Sonia Alcaide.
A conquista do Gauchão de 1925 entrou para a história do Grêmio Bagé e do futebol gaúcho, transformando a equipe em uma das mais tradicionais do estado. O feito fez com que o elenco campeão recebesse a expressão popular de “Imortais de 1925”, por conta das vitórias sobre os adversários em todas as etapas da competição.
Aquela edição é vista de uma maneira inspiradora e simbólica para os torcedores e funcionários do clube, como está claro neste depoimento do presidente do Grêmio Bagé, Fernando Figueira.
“O Grêmio Esportivo Bagé é uma paixão que vem de berço, vestir as cores amarelo e preta é um orgulho para todos os amantes da colmeia. Reconhecer o passado é agradecer aos nossos antecessores tudo o que temos e somos hoje. A conquista de 1925 foi um dos grandes marcos do nosso jaldenegro, que inspira até hoje”.

Fernando Figueira é o atual presidente do Grêmio Esportivo Bagé. (Foto: Reprodução) A Taça de Prata de 1925
A honraria não teria fim naquele 22 de novembro. O Grêmio Bagé foi o primeiro clube do Rio Grande do Sul a ter o seu nome inscrito na Taça de Prata da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atual CBF.
Apesar do feito, a Taça não permaneceria em definitivo no Estádio Pedra Moura. “De acordo com o regulamento, o time que vencesse cinco vezes o Gauchão ficaria com o prêmio em definitivo. No meio do caminho, houve uma redução para três títulos, e assim o Tricolor da capital ficou com o troféu após as conquistas dos estaduais de 1926, 1931 e 1932”, explicam os jornalistas Cléber Grabauska e Gustavo Manhago no livro “100 vezes Gauchão – A História Centenária de uma Paixão”.
A história do clube depois da conquista
O Grêmio Bagé continuou competitivo nos anos seguintes. Logo em 1927, perdeu a chance de ser bicampeão ao perder por 3 a 1 para o Internacional na decisão, no primeiro título estadual da história colorada. O clube manteve o vice-campeonato nas edições de 1928, 1940, 1944 e 1957.
Atualmente a equipe se encontra na divisão de acesso do Campeonato Gaúcho, tendo quase conseguido subir para a principal competição após 31 anos de espera. O clube foi eliminado para o Internacional de Santa Maria nas quartas de final do torneio. Mesmo sem conquistar novamente o Gauchão, aquele time de 1925 jamais será esquecido por toda a comunidade que integra o Grêmio Esportivo Bagé. Afinal, quem é imortal deve ser lembrado para toda a eternidade.
2 respostas para “O centenário do título gaúcho do Grêmio Bagé em 1925”
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Parabéns!!! A matéria muito significativa, de um clube de futebol que guardo muito carinho.
Bela reportagem! Em tempos em que o futebol gaúcho anda tão por baixo, resgatar o passado “lava a alma”.