Presidente Café Filho jogou pelo Alecrim
Dentre os presidentes da República, somente um defendeu um clube de futebol como profissional
João Café Filho foi o vice de um dos presidentes mais carismáticos da história do Brasil: Getúlio Vargas. Era um homem de pulso firme, o suficiente para comandar o país num momento dramático, logo após o suicídio do colega. Assim, tornou-se o presidente de 1954 a 1955. Dentre os 36 que governaram a república, foi o único que vestiu a camisa de um clube de futebol. Literalmente.
Nascido em Natal, em 1899, Café Filho foi um dos fundadores do Alecrim. Em 1915, a cidade vivia a efervescência do esporte. Em junho e julho, surgiram ABC e América, os clubes mais tradicionais do estado. Em agosto, foi a vez do Alecrim, lançado por um grupo de adolescentes. Sem habilidade com a bola nos pés, restou ao jovem que ficaria famoso ser o goleiro da equipe em ocasiões eventuais entre 1918 e 1919.
“O arqueiro que certa vez me substituiu deixou que os adversários fizessem 12 gols, enquanto eu deixara a bola passar nas traves apenas 10 vezes”, ironizou Café Filho em sua autobiografia, publicada em 1966 – “Do Sindicato ao Catete: Memórias políticas e confissões humanas”.
Essa foi uma célebre derrota de 22 a 0 para o América. “O estadual começou em 1918, mas o Alecrim só foi aceito em 1924. O time fazia amistosos, por isso não há muitos registros sobre a participação de Café Filho”, aponta o radialista e historiador do futebol potiguar Marcos Trindade, autor do Blog do Trindade.
Ainda adolescente, Café Filho já mostrava traços de liderança. Aos 17 anos, quando estudava no Recife, ele negociou um amistoso do recém-fundado Santa Cruz contra o ABC. O primeiro duelo interestadual no Rio Grande do Norte, cheio de pompas, ocorreu em 1916.
Enquanto ABC e América eram formados por filhos da elite, o Alecrim foi fundado no bairro de mesmo nome, na zona rural. Para o campeonato local ser criado, seria necessária a montagem às pressas de um terceiro time na zona urbana. Surgiu então o Centro Sportivo Natalense, em 1918, com Café Filho na vice-presidência.
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No clube, Café Filho organizou um grupo feminino, onde conheceu a futura esposa, Jandira de Oliveira (que ganhou o sobrenome Café após o matrimônio). Com a saída da adolescência, ele passou a trabalhar como jornalista e advogado. E, em 1921, aos 22 anos, entrou para a política, para nunca mais sair, até morrer em 1970, como ministro do Tribunal de Contas da Guanabara.
“Café Filho sempre foi muito ligado a política. Logo cedo passou a morar no Recife e depois no Rio de Janeiro, então existem poucos registros da presença dele no futebol em Natal. Apesar disso, o fato de ter sido fundador e jogador é sempre motivo de homenagens da torcida do Alecrim”, indica Marcos Trindade.
Outros presidentes também gostaram de futebol. João Goulart (1961/64) foi lateral dos juvenis do Internacional, sendo campeão gaúcho em 1932. Emílio Garrastazu Médici (1969/74) foi atacante do Grêmio de Bagé. Luiz Inácio Lula da Silva (2003/11) promovia rachões no gramado no Palácio da Alvorada. Fernando Collor (1990/92) foi presidente do CSA entre 1973 e 1974, sendo campeão alagoano. Mas nenhum presidente garantiu a um clube o feito do qual se orgulha o Alecrim.
Saiba mais sobre Café Filho:
www.memoriaviva.com.br/cafefilho
“Não há palavras que possam descrever a minha emoção. A notícia do gesto de desespero do Presidente da República atingiu-me como um raio. Toda a Nação deve estar, como eu, profundamente traumatizada por esta tragédia sem igual em nossa História. Jamais pensei em assumir a Presidência do meu País, por força de preceito constitucional, em condições de um cunho doloroso e chocante.” Primeira mensagem de Café Filho, logo após o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.
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