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Gandhi usou futebol contra o preconceito

Mahatma Gandhi viveu na África do Sul, antes de ficar famoso na Índia, e ensaiou sua luta usando o futebol como ponte

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Mahatma Gandhi (6º da esq. pra dir. em pé) e sua turma de futebol quando viveu na África do Sul (Foto: Reprodução)

O uso do rúgbi por Nelson Mandela em prol da unidade racial da África do Sul é fartamente abordado. Virou filme de Hollywood, “Invictus”, estrelado por Morgan Freeman. Um século antes, outro líder político apoiou-se no futebol na luta contra o preconceito no país: Mahatma Gandhi. História pouco conhecida, mas não menos valorosa.

O básico sobre Gandhi está disponível na internet. Nascido na Índia em 1869, ele formou-se em Direito na Inglaterra, viveu duas décadas na África do Sul, voltou para a terra natal e levou seu país à independência, em campanha política baseada na Satyagraha, forma não-violenta de protesto.

Gandhi era advogado (Foto: Reprodução)

Muito antes de ganhar fama na Índia, Gandhi começou a formular essa filosofia de resistência quando desembarcou na África do Sul em 1893, aos 24 anos, para atuar como advogado de uma companhia. No país, ele encontrou terreno fértil para suas ideias contra a segregação racial, ao ver o sofrimento da comunidade de imigrantes indianos.

Pouco após sua chegada, Gandhi viveu o episódio que despertou sua consciência social, quando foi preso por se recusar a deixar o vagão de primeira classe de trem, destinado aos brancos. Ele então organizou ação de desobediência civil que foi a semente da revolução concluída um século mais tarde por Nelson Mandela.

Uma das ferramentas que Gandhi usou para propagar seu discurso foi o futebol, esporte recém-chegado ao país. Na virada do século, ele ajudou a estabelecer três times, em Durban, Pretória e Joanesburgo, chamados de Passive Resisters Soccer Club. Nos jogos, distribuía folhetos contra a segregação racial.

“Na época a ideia de jogo de equipe era muito mais forte do que a atual, das estrelas individuais. Isso conquistou Gandhi, que usou o esporte para promoção dos valores morais, espírito de equipe e fair play”, resgata Poobalan Govindasamy, dirigente da Federação Sul-Africana, estudioso da incursão do líder político no futebol.

Foi Gandhi quem ajudou a fundar a Federação de Futebol Hindu da África do Sul, em 1903. Num país dividido em raças, o esporte desempenhava ao mesmo tempo papel de união e exclusão. Em todas as modalidades mais populares, havia federações voltadas para brancos, negros ou indianos. Política esportiva que vigorou até o fim do Apartheid, o regime oficial de segregação, em 1994.

“As gerações por vir terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra”. (Albert Einstein, sobre Mahatma Gandhi)

A reputação como ativista levou Gandhi a voltar para a Índia, em 1915, aos 46 anos. Começava uma nova luta, contra a opressão dos ingleses aos indianos. Jornada que culminou com a independência de seu país, em 1947, e seu consequente assassinato, um ano depois.

Sem Gandhi na África do Sul, novos líderes surgiram na caminhada contra a desigualdade racial. As equipes Passive Resisters foram dissolvidas, mas outros times foram formados na comunidade de imigrantes indianos. Um deles foi o Manning Rangers, fundado em 1928, em Durban, por alguns de seus discípulos.

Quando surgiu a Premier Soccer League, a liga sul-africana, em 1996, finalmente se uniram sob um mesmo campeonato profissional times de brancos, negros e indianos. Por ironia, o primeiro campeão foi o Rangers. Clube que teve suas raízes um século antes, graças aos esforços de uma das maiores figuras da humanidade.

Manning Rangers Football Club

Fundação: 1928
Cidade: Durban
Estádio: Chatsworth Stadium (35 mil lugares)
Títulos: Premier Soccer League 1996/1997

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