Irene Vitória mora e trabalha no Serra Dourada. Não o estádio, mas sim a rua. Por ironia, a via não é localizada em Goiânia, mas sim a 1.500 km de distância. Em Feira de Santana (BA), onde a paixão por futebol levou ao batismo de dezenas de ruas com nomes de estádios, times e jogadores da seleção brasileira da Copa do Mundo de 1970. Possivelmente uma história sem igual no país.

Esse é o orgulho dos bairros Cidade Nova e Parque Ipê, na periferia de Feira de Santana. Eles foram os primeiros conjuntos habitacionais do município, inaugurados em meio à empolgação pelo tricampeonato mundial. Só se falava em futebol na cidade. Por isso foi natural que as ruas entrassem na onda.

A novidade surgiu primeiro na Cidade Nova, que ganhou nomes de jogadores da seleção e de cidades baianas. Claro, privilégio para quem mora ou trabalha nas “ruas do tri”, como ficaram conhecidas. Em campo Pelé, Tostão, Jairzinho, Rivelino, Carlos Alberto, Piazza e até Dr. Lídio Toledo, médico da equipe.

“Muita gente fica curiosa sobre isso. Estando meu negócio na rua Rivelino, tenho a vantagem de que as pessoas sempre memorizam o endereço”, diverte-se José Alberto Santos, proprietário de loja de ar condicionado.

“Estando meu negócio na rua Rivelino, tenho a vantagem de que as pessoas sempre memorizam o endereço”. (José Alberto Santos)

Inspirado na Cidade Nova, veio o Parque Ipê com nomes de times e estádios. Poucos com fama no futebol nacional, como ocorre em alguns bairros de outras cidades do Brasil. A alternatividade nas escolhas foi grande, com ruas como Bangu, Olaria, Portuguesa, Ponte Preta, Motoclube, Maguari e até mesmo Íbis, além dos estádios Ilha do Retiro, Castelão e Batistão.

“As pessoas não acreditam quando digo que trabalho na rua Portuguesa de Desportos. A gente precisa dizer que é um bairro de times, porque ninguém entende por que a rua recebeu um nome tão diferente”, brinca Ieda Gomes, dona de loja de material de construção.

“As pessoas não acreditam quando digo que trabalho na rua Portuguesa de Desportos”. (Ieda Gomes)

Por ironia, não há referências ao Fluminense de Feira, ao Bahia de Feira, ao Feirense ou ao estádio Albertão. “Só os mais velhos são torcedores dos times da cidade, por terem acompanhado a fase de ouro do nosso futebol”, constata Irene Vitória, da rua Serra Dourada.

Entre os clubes preferidos dos moradores dos dois bairros de Feira de Santana estão representantes de outros estados, presença constante nas TVs. Pelo que se vê nas placas das ruas, não é à toa.

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Outros casos pelo Brasil:

O Verminosos por Futebol apurou a existência de outras cidades com bairros com nomes de futebol, sempre casos de grandes clubes, e não times alternativos como em Feira de Santana: Porto Velho-RO (bairros Lagoinha e Três Marias), Manaus-AM (Cidade Nova), Itamaraju-BA (Novo Prado) e Ubatuba-SP (Estufa II).